Doenças consideradas praticamente incuráveis na
medicina atual, os linfomas indolentes, no entanto, dispõem hoje de um arsenal
terapêutico tão amplo e eficiente que as taxas de sobrevida são cada vez mais
elevadas. Estratégias terapêuticas modernas, com novas drogas que estão chegando
ao mercado brasileiro, vêm contribuindo para o aumento do índice de sobrevida e
também da sobrevida livre de doença de pacientes com esse tipo de linfoma. O Professor Titular de Hematologia e
Hemoterapia
da Unicamp, Dr. Cármino Antonio de Souza, realizou uma palestra durante o
Congresso Brasileiro de Hematologia e Hemoterapia, que aconteceu em São Paulo,
SP, entre os dias 6 e 9 de agosto, no qual abordou o tema “Estratégias
terapêuticas nos linfomas indolentes: doenças curáveis?” Nesta entrevista à Prática
Hospitalar, o especialista comenta sobre o que foi dito em sua palestra.
Prática Hospitalar - Quais são os tipos de
linfomas considerados curáveis e por que há um paradoxo relacionado a essas
doenças?
Prof. Dr. Cármino Antonio de Souza - Poderíamos estratificar os
linfomas em três grupos, um grupo como sendo o dos linfomas muito agressivos
(os linfomas linfoblásticos e linfoma de Burkitt); outro grupo, que é o dos
linfomas agressivos, cujo representante mais importante é o denominado linfoma
B de grandes células, e depois um terceiro grupo, que são os chamados linfomas
indolentes. Os linfomas indolentes são considerados atualmente na medicina como
doenças praticamente incuráveis e aí está o paradoxo, porque tanto os linfomas
muito agressivos quanto os agressivos são potencialmente curáveis. Se
observarmos as curvas de sobrevida dos linfomas indolentes e dos linfomas
agressivos, veremos que elas se cruzam aproximadamente dez anos depois, pois a
curva dos linfomas agressivos cai constantemente e muito precocemente, nos
primeiros dois anos principalmente, estabilizando-se depois, criando um platô
cuja curabilidade é da ordem de 40% a 50%. Portanto, esse é o grande paradoxo
dos linfomas.
Outra diferença fundamental é que os linfomas
indolentes são doenças de pessoas idosas; a mediana de idade é acima de 60
anos, o que faz com que uma série de terapêuticas, que poderiam eventualmente
ser utilizadas no sentido da erradicação da doença, não seja possível de ser
aplicada, tendo em vista as limitações clínicas da própria idade. Por isso,
inclusive, é que a maioria dos linfomas indolentes não é passível de cura; temos
um percentual de 10% a 20% de linfomas indolentes localizados que podem ser
curados com radioterapia e quimioterapia, mas a maioria, não. E se pegarmos as
curvas de sobrevida das décadas de 70, 80 e 90, podemos observar que essas
curvas são absolutamente superponíveis.
P. H. - Como é hoje a estratégia terapêutica dos
linfomas indolentes?
Dr. Cármino - Existem as estratégias terapêuticas quimioterápicas
modernas ou alvo específicas. Dentre as quimioterápicas modernas, há os
análogos da purina, particularmente da fludarabina, que é uma droga muito ativa
para os linfomas indolentes. Entre os monoclonais, temos disponível já no
mercado brasileiro o rituximab, incorporado hoje à terapêutica dos linfomas
indolentes B; também o campat, que está chegando ao Brasil, é um antilinfócito
total e que tem sido introduzido no Primeiro Mundo através da leucemia linfóide
crônica, mas provavelmente é uma droga ativa para linfomas e leucemias da
linhagem T, algo que, na minha opinião, é o ponto de maior interesse para o
futuro, não só na leucemia linfóide crônica, mas principalmente nos chamados
linfomas T; e ainda o zevalin, um anti-CD-20, que também deve chegar ao Brasil
nos próximos meses, incorporado a uma molécula de ítrio, que é uma molécula
radioativa. O zevalin é um medicamento que tem fisiopatologicamente todas as
funções do anti-CD-20; entretanto, possui uma ação radioterápica na qual o
anticorpo cola na parede, interfere no metabolismo e libera a radiação que irá
destruir aquela célula.
P. H. - O índice de sobrevida dos linfomas indolentes
com essa terapêutica é elevado?
Dr. Cármino - Certamente conseguimos melhorar bastante o índice de sobrevida; as taxas de sobrevida hoje são muito elevadas nesse grupo de linfomas, atingindo um índice superior a 12 anos. E com essa terapêutica atual conseguimos fazer com que os pacientes passem períodos muito prolongados livres de doença. A sobrevida é longa e a sobrevida livre de doença vem aumentando com as terapêuticas combinadas. O ponto crítico disso tudo é saber quando devemos tratar os nossos pacientes, porque boa parte dos doentes diagnosticados não precisa ser tratada. Eles podem ter tamanha estabilidade da doença e um tempo de duplicação tão lento que não é preciso instituir um tratamento. Obviamente que se a doença progride, aí sim devemos pensar no tratamento: se o paciente começa a perder peso, ter febre, crescimento de linfonodos, crescimento do baço, se começa a leucemizar ou se a leucemia que ele já tinha duplica rapidamente.
Dr. Cármino - Certamente conseguimos melhorar bastante o índice de sobrevida; as taxas de sobrevida hoje são muito elevadas nesse grupo de linfomas, atingindo um índice superior a 12 anos. E com essa terapêutica atual conseguimos fazer com que os pacientes passem períodos muito prolongados livres de doença. A sobrevida é longa e a sobrevida livre de doença vem aumentando com as terapêuticas combinadas. O ponto crítico disso tudo é saber quando devemos tratar os nossos pacientes, porque boa parte dos doentes diagnosticados não precisa ser tratada. Eles podem ter tamanha estabilidade da doença e um tempo de duplicação tão lento que não é preciso instituir um tratamento. Obviamente que se a doença progride, aí sim devemos pensar no tratamento: se o paciente começa a perder peso, ter febre, crescimento de linfonodos, crescimento do baço, se começa a leucemizar ou se a leucemia que ele já tinha duplica rapidamente.
Existem vários critérios definidos pelo National
Cancer Institute, aceitos no mundo todo, que estabelece o momento certo de se
instituir um tratamento, e, nesse momento, creio que deveríamos administrar
terapêuticas eficazes e não as terapêuticas muito paliativas, porque poderemos
prolongar a vida e dar qualidade de vida, deixando o paciente livre da doença
pelo menos por um período. E para aqueles pacientes mais jovens, poderíamos,
inclusive, considerar a possibilidade de fazer terapia de alta dose, que são os
transplantes autólogos, utilizando todo o arsenal disponível, como a
quimioterapia, anticorpos monoclonais, etc. Hoje, o importante na medicina é
que utilizemos todo o arsenal antitumoral de que dispomos e também é
fundamental que tenhamos protocolos com os quais possamos instituir a melhor
terapêutica para cada paciente. São situações de primeira linha e de salvamento
analisadas de maneira diferenciada, ou seja, os doentes que precisam se tratar
devem fazê-lo com o que existe de melhor. Mas só aqueles que realmente precisam
se tratar.
P. H. - E por que o tratamento não deve ser indicado
para todos os pacientes com a doença?
Dr. Cármino - Não adianta tratarmos todo mundo no começo porque podemos correr um outro risco, que é o da toxicidade e dos problemas terapêuticos, os quais não são desprezíveis. Em medicina, devemos medir a resposta e os efeitos adversos, essa é uma balança que o médico deve pesar sempre, conhecer o efeito e o paraefeito; se o paraefeito em um determinado momento for mais provável do que os efeitos benéficos, devemos aguardar e esperar o momento em que essa balança se inverta. E nos linfomas indolentes essa balança é muito delicada, é preciso que o médico tenha muita sensibilidade para saber reconhecer a hora certa de tratar. Imagine como é difícil para um doente que tem um determinado tumor, seja ele qual for, e o médico diz que ele não precisa se tratar. A tendência desse paciente é procurar outros médicos e, eventualmente, algum especialista dirá que ele precisa de tratamento. Dessa forma, o profissional precisa saber o timing exato e utilizar as melhores drogas possíveis, que são cada vez mais eficazes, isto é, para aqueles que precisam de tratamento, temos realmente hoje uma terapêutica eficiente.
Dr. Cármino - Não adianta tratarmos todo mundo no começo porque podemos correr um outro risco, que é o da toxicidade e dos problemas terapêuticos, os quais não são desprezíveis. Em medicina, devemos medir a resposta e os efeitos adversos, essa é uma balança que o médico deve pesar sempre, conhecer o efeito e o paraefeito; se o paraefeito em um determinado momento for mais provável do que os efeitos benéficos, devemos aguardar e esperar o momento em que essa balança se inverta. E nos linfomas indolentes essa balança é muito delicada, é preciso que o médico tenha muita sensibilidade para saber reconhecer a hora certa de tratar. Imagine como é difícil para um doente que tem um determinado tumor, seja ele qual for, e o médico diz que ele não precisa se tratar. A tendência desse paciente é procurar outros médicos e, eventualmente, algum especialista dirá que ele precisa de tratamento. Dessa forma, o profissional precisa saber o timing exato e utilizar as melhores drogas possíveis, que são cada vez mais eficazes, isto é, para aqueles que precisam de tratamento, temos realmente hoje uma terapêutica eficiente.
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