quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

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Risco de seca intensa na Amazônia pode ser 10 vezes maior em 2030

As chances de ocorrerem períodos de intensa seca na região da Amazônia podem aumentar dos atuais 5% (uma forte estiagem a cada 20 anos) para 50% em 2030 e até 90% em 2100, informam cientistas do Hadley Centre.


Seca – setembro de 2005. Maior seca do rio Amazonas em 30 anos. O Rio Negro é um afluente da margem esquerda. Manaus está situada na margem esquerda deste rio.


Cheia – Junho de 2009. Rio Negro, afluente da margem esquerda do rio Amazonas. Maior enchente desde 1902, superando a marca histórica de 1953.

As fotos acima mostram a região da praia da Ponta Negra, tendo ao fundo o imponente prédio do flat do Tropical Hotel Manaus. Percebam como é muito grande a diferença do nível das águas do Rio Negro.

Um dos casos estudados durante o encontro em março/2007 na Universidade de Oxford, na Grã-Bretanha, onde especialistas em mudanças climáticas debateram temas críticos sobre o futuro do planeta foi a forte seca ocorrida na região da Amazônia, há dois anos. As imagens de centenas de peixes apodrecendo no rio Amazonas, o maior rio do planeta, chocaram o mundo. Eram as imagens da estiagem de 2005 na região da Amazônia. Em algumas áreas, a seca superou todos os recordes desde que se começou a medir estatísticas climáticas do local. O governo brasileiro teve de declarar estado de emergência.

O mundo pode ter esquecido a seca de dois anos atrás, mas a comunidade científica não. Especialistas tentam agora entender se o aquecimento global causou a seca e qual foi o grau de devastação causado por ela. Há consenso entre os cientistas de que a seca de 2005 não estava relacionada com o fenômeno El Niño, como grande parte das secas na Amazônia, mas sim com o aquecimento da superfície na área tropical do Atlântico do Norte.

'Colapso da Amazônia'


O professor de dinâmicas de mudanças climáticas da Universidade de Essex, na Grã-Bretanha, Peter Cox, diz acreditar que os mesmos fatores que causaram a estiagem devem se repetir. "Não podemos dizer com certeza que a seca como a que ocorreu em 2005 foi causada pelo aquecimento global", disse Cox. "Mas podemos dizer que a probabilidade de um evento como esse vai aumentar como conseqüência da mudança de clima induzida pelo homem, podendo se tornar bastante comum até o final do século", afirma Cox.


Fator humano


Há menos dúvidas sobre o impacto e a natureza rara da seca de 2005. "Foi muito atípica tanto pela localização como pela intensidade", diz Nobre."A maior parte da secas na Amazônia acontece no nordeste da floresta, mas esta começou no oeste e no sudoeste, e seu impacto se espalhou até o centro e o leste."

Próximo a Manaus, o nível do Amazonas chegou a ficar três metros abaixo da média. Muitas comunidades dependentes do rio para transporte ficaram ilhadas com a seca dos afluentes. Pela primeira vez, houve registro de incêndios generalizados no sudoeste.


Uma nova pesquisa do cientista Luiz Aragão, do Instituto de Mudanças no Meio Ambiente de Oxford, aponta a extensão dos incêndios. "Uma área de 2,8 mil quilômetros quadrados foi perdida devido a uma proliferação extensiva de incêndios em florestas", afirma o estudo. A pesquisa de Aragão mostra que os incêndios ocorreram principalmente em áreas onde há atividade humana. Em outras regiões afetadas pela seca, onde há poucas pessoas, como no sudeste do Peru, havia pouca evidência de fogos.


Alto impacto


As previsões mais alarmistas para a Amazônia indicam que a combinação de incêndios, secas, desmatamento, mudanças no uso da terra (como plantação de soja) e aquecimento global vão empurrar a Amazônia para o limite de um ciclo de destruição. Cientistas na conferência em Oxford alertam que não sabem ainda qual é o risco exato de isso acontecer, mas falam em "corredores de probabilidade".


Mas, por mais baixa que seja a probabilidade, mudanças na Amazônia devem ter um alto impacto no clima global.


Como disse um dos conferencistas: "você não entraria em um avião se você soubesse que há 10% de chance de ele cair".


Editado do texto original de
James Painter, da BBC Brasil
De Oxford, 23/03/07






sábado, 26 de dezembro de 2009

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Leitura no Brasil é uma vergonha II

Pois bem, estamos em dezembro de 2009 e como naquela canção do Leo Jayme, NADA MUDOU. O Brasil continua sendo o paraíso dos não-leitores.

O mundo sempre teve que conviver com os opostos, os extremos, os contrastes. Alguns são até antagônicos. Alias, do dinamismo resultante desta interação polar é que parece mesmo ser gerada a energia sutil que dá substância ao tecido sociológico, com o qual a civilização costura a sua história ao longo dos tempos, e a propulsiona na direção do futuro. Esta noção dos opostos é antiga e está representada no princípio oriental do Yin e do Yang.

Alguns são de ordem natural como Quente e Frio, Luz e Escuridão, Macho e Fêmea, Norte e Sul, Positivo e Negativo, Botafoguenses e Flamenguistas. Facilmente identificáveis até organolepticamente. Outros surgem como o produto cultural de uma época ou têm origem em um determinado contexto sociocultural, como Gregos e Troianos, Católicos e Protestantes, Peles-vermelhas e Caras-pálidas, Judeus e Muçulmanos, Liberais e Conservadores, Capitalistas e Socialistas (ou trabalhistas?), Paraenses e Amazonenses. A lista de categorias é infinita.

Sou relativamente indiferente a este arranjo, que geralmente envolve ideologias e colorações políticas. Para mim as coisas são bem mais simples: o meu mundinho está dividido primariamente entre leitores e não-leitores e, secundariamente, entre melômanos e não-melômanos. E tudo na vida decorre destas condições do indivíduo.

Os não-leitores são reconhecíveis a milhas de distância e não precisam nem abrir a boca. Eles se sentem à vontade, contextualizados, inocentes, compartilhando com seus pares da inconsciência da inconsciência, pois são a grande maioria em países ainda em desenvolvimento, como o nosso. Os mais bem sucedidos economicamente ostentam geralmente um ar ufano, de propriedade, assim, como quem diria que não se precisa ser minimamente letrado para se fazer dinheiro e oferecer conforto e bem-estar material à família, como se isso fosse o objetivo final da existência. Aliás, em algumas culturas, como a francesa, o livro é tão popular e importante, que ocupa lugar de destaque nos supermercados entre os gêneros alimentícios, os de higiene pessoal e doméstica, os de informática, etc. Lá os livros convivem naturalmente com o arroz, o feijão, o açúcar e o café nos carrinhos de compras.

Mas, afinal, como saber da importância de se ler, se não se leu? Como intuir a existência de uma terceira dimensão, se a experiência da vida se desenrola segundo as leis físicas e a lógica das duas dimensões, apenas? Como no caso das formigas? Como transitar por anos em uma Universidade e mesmo concluir um curso superior, sem desenvolver minimamente o hábito da leitura? Como exercer a cidadania da nacionalidade em sua plenitude e se situar como cidadão em um contexto mais amplo, universal, afirmando uma brasilidade consciente e culturalmente positiva? Não são questões nada fáceis de serem respondidas. Mas certamente devemos fugir das simplificações exageradas.

A escola brasileira não sabe ensinar a ler e ponto — disse o ministro da Educação, Paulo Renato, como se essa declaração explicasse o vergonhoso desempenho de estudantes brasileiros (de escolas públicas e particulares) no tal de PISA — Programa Internacional de Avaliação de Alunos —, colocando o Brasil em último lugar entre os 32 países avaliados quanto à "capacidade de leitura, assimilação e interpretação de texto".

O ministro tentou simplificar demais e transferir para a escola responsabilidades que ainda sequer foram detectadas. Mas cabe a nós retomar o ponto final que o ministro empregou tão indevidamente e transformá-lo em reticências, ou interrogação que iniciem uma reflexão mais aprofundada...

O primeiro ponto a ressaltar é que este resultado confirma a necessidade de enfatizarmos o papel do livro na formação do brasileiro. E isso vai muito além da compra de obras didáticas pelo governo ou a multiplicação de bibliotecas públicas. A leitura é um hábito difícil de formar. Compramos menos livros em 2004 - 289 milhões, incluindo livros didáticos distribuídos pelo governo - do que em 1991.

Uma pesquisa encomendada pelo Instituto Pró-Livro e executada pelo Instituto Brasileiro de Opinião Pública e Estatística (Ibope), coordenada pelo Observatório do Livro e da Leitura (OLL) constatou que 95 milhões de pessoas, ou seja, 55% da população são leitores, enquanto 77 milhões, 45% dos entrevistados, foram classificados como não-leitores.

O estudo foi aplicado em 5.012 pessoas em 311 municípios de todo o país, de 29 de novembro de 2007 a 14 de dezembro do mesmo ano, o que representou mais de 172 milhões de pessoas, ou seja, 92% da população. O método adotado para definir o leitor ou não-leitor foi a declaração do entrevistado de ter lido ao menos um livro nos últimos três meses.

Quem disse que o jovem brasileiro não lê? Mas não lê o quê? Não lê Machado de Assis e Alcântara Machado? Fernando Pessoa? E o fenômeno Harry Potter? Será tão difícil perceber que os jovens gostam de ler boas histórias - e aí não há livro de 500 páginas que assuste?

Pois bem, esta pesquisa revelou também que no Brasil as crianças e adolescentes ainda lêem mais que os adultos. O que não deixa de ser muito alentador para o presente e alvissareiro para o futuro. A média é de 8,5 livros para a faixa etária de 11 a 13 anos e 4,2 para adultos, de 30 a 39.

Este interesse continuaria se os adultos fossem vistos lendo e comprassem livros para seus filhos. Sentassem com eles e pedissem sua opinião sobre o que leram e o que mais gostaram. Enfim, se os pais demonstrassem para os filhos que ler um bom livro pode dar mais prazer do que ficar passivamente diante da televisão limitando-se a ver e a ouvir o que os outros filtraram, ou jogando videogame o tempo todo.

terça-feira, 22 de dezembro de 2009

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Leitura no Brasil é uma vergonha


A aversão dos brasileiros aos livros virou assunto da última edição da influente revista britânica The Economist. Para a publicação, a situação precária das bibliotecas públicas e o baixo índice de leitura dos brasileiros constituem "motivo para vergonha nacional", juntamente com o crime e com as taxas de juros. Leia abaixo uma tradução do texto "Um País de não-leitores", publicado pela revista:


Muitos brasileiros não sabem ler. Em 2000, um quarto da população com 15 anos ou mais eram analfabetos funcionais. Muitos simplesmente não querem. Apenas um adulto alfabetizado em cada três lê livros. O brasileiro médio lê 1,8 livros não-acadêmicos por ano - menos da metade do que se lê nos EUA ou na Europa. Em uma pesquisa recente sobre hábitos de leitura, os brasileiros ficaram em 27º em um ranking de 30 países, gastando 5,2 horas por semana com um livro. Os argentinos, vizinhos, ficaram em 18º.
Em um raro acordo, governo, empresas e ONGs estão todos se esforçando para mudar isso. Algumas medidas paliativas estão sendo colocadas em prática, como o lançamento pelo governo do Plano Nacional de Livros e Leitura, além da abertura de novas bibliotecas. A medidas buscam impulsionar a leitura. Está se tornando comum ver personagens nas novelas da TV lendo. Os cínicos lembram que a Rede Globo, maior emissora de TV do país, também publica livros, jornais e revistas.
Outro fator que desencoraja a leitura é o preço. Os livros são muito caros. Na Bienal do Livro de São Paulo, O Código Da Vinci estava à venda por R$ 32,00, mais de 10% no salário mínimo do país. A maioria dos livros tem tiragens baixas, puxando para cima os preços.
Mas a indiferença dos brasileiros pelos livros tem raízes mais profundas. Séculos de escravidão levaram os líderes do país a negligenciar a educação. A escola primária só se tornou universal na década de 90. O rádio era uma presença constante já nos anos 30; as bibliotecas e as livrarias ainda não conseguiram emplacar. "A experiência eletrônica chegou antes da experiência escrita", disse Marino Lobello, da Câmara Brasileira do Livro, um órgão da indústria.
Tudo isso significa que o mercado de livros brasileiro tem o maior potencial de crescimento no mundo ocidental, lembra Lobello. Editoras estrangeiras, como a espanhola Prisa-Santillana, que comprou uma casa editorial local no ano passado, começam a se voltar para o país. Editoras evangélicas americanas miram o mercado de livros religiosos, que superam as vendas de livros de ficção no Brasil.

No ano passado, o diretor da Biblioteca Nacional se demitiu após um mandato controverso. Ele se queixou de ter menos bibliotecários do que precisava e de que as traças já haviam roído muito do acervo. Juntamente com o crime e com as taxas de juros, isso é motivo para vergonha nacional.
Este texto foi editado e condensado de texto original da Folha Online de 16/03/2006. No próximo post vou explicar  o porquê de sua publicação nesta data e comentarei o assunto. :=]



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Kindle diz que tem recorde de vendas em dezembro 

A empresa norte-americana de varejo online Amazon.com disse na quinta-feira passada que seu leitor eletrônico de livros Kindle teve o melhor mês de vendas em dezembro.Sem dar números ou comparativos e com cerca da metade do andamento do mês, a empresa disse que o Kindle foi o produto mais pedido até agora durante as compras de fim de ano ,em dezembro.  


A Amazon vê o Kindle como seu principal veículo de crescimento e está engajada numa forte disputa com os concorrentes da Sony e da Barnes & Noble para ver quem terá o eletrônico de leitura mais vendido. A declaração da Amazon sobre o sucesso do Kindle chega após notícia de quinta-feira passada de que a Sony firmou acordo com a News Corp para disponibilizar o The Wall Street Journal e outras publicações disponíveis em seu leitor eletrônico

Aqui no Brasil ele está custando USD 276,00, mais cerca de 60% de imposto de importação.

 

segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

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Quanta sinceridade...



Mafalda, de Quino
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Hoje tive que sair cedão para pegar a senha de atendimento no laboratório do Hemoam e colher sangue. Novo hemograma, mesmo já tendo feito isso ontem na urgência da Clínica Sto Alberto. É que eles lá não abrem mão: o exame deve ser feito por eles. Acho isso válido, que se queira ter esse tipo de controle sobre um tratamento tão caro e, olhando de certo ponto de vista, incomum.

Mas já sei que meus leucócitos ainda estão no que eu chamo de "fase pre-bombante" e que até o dia da próxima químio eles estarão com tudo em riba, refeitos. Como sempre. a sala de espera  do laboratório estava lotada, o ar condicionado bombando. Algumas pessoas portando máscaras descartáveis.

Enquanto espero minha vez de ser furado, fico bisbilhotando. A maioria é de adultos e mulheres, todos gente muito simples, acostumada a acordar sempre bem cedo para conseguir ser atendido um pouco mais rápido, no SUS ou em qualquer outro serviço público.  Sente-se sempre no ar um odor de álcool misturado a algo que ainda não consegui distinguir. Os que chegam mais tarde ficam de pé, resignados, dispostos a esperar o tempo que for necessário.

Ninguém lê para passar o tempo, enquanto aguarda. Os mais jovens, trajando roupas coloridas e tênis vistosos se ocupam constantemente de seus celulares e portam auriculares para escutar música direto deles. Aqui e alí uma criança chora. Alguém tosse e todo mundo olha em sua direção. Um senhor por volta de seus 60 anos entra de mãos dadas com uma velha senhora - que teria idade para ser sua mãe - e logo percebe-se que ela é que é a paciente. Ele é muito cuidadoso e se comporta como um privilegiado por estar podendo ajudar, cheio de gentilezas e atenções. Acabo sendo expulso da sala pelo odor incrivelmente forte e enjoativo de âmbar sintético que invade o ambiente com a entrada de uma mulher morena, ainda jovem, com um garoto pela mão.

Fato curioso é que as crianças, as garotinhas que portam alguma enfermidade hematológica, pelo menos as que se tratam no hemocentro, aqui no Amazonas, são vestidas pelas mães invariavelmente de côr-de-rosa, dos pés à cabeça, pois todas usam mesmo algum tipo de  calçado, meia, chapeuzinho, gorro, boné e também usam algum tipo de bolsinha.  Elas vão chegando, caladinhas, devagar, as cabecinhas peladas protegidas pelo chapeuzinho, algumas abraçadas com um ursinho, uma boneca. Muitas, acostumadas às torturas da quimioterapia, já sabem o que as espera na sala de coleta, ao lado, de onde já se pode ouvir os apelos de cortar o coração daqueles cujos pais conseguiram acordar de madrugada.
E amanhã tenho que voltar lá, cedinho, para uma nova consulta médica.  :=[


domingo, 20 de dezembro de 2009

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A Força da VIDA



Sim, felizmente existem pessoas que, como José Alencar e o blogueiro Nelson Sonntag conseguem aparentemente suportar todos, ou pelo menos a maioria dos problemas do dia-a-dia e adversidades sem reclamar, serenas, sempre com um sorriso característico nos lábios. Elas são realmente admiráveis e exemplares para todos nós.  
E não se trata apenas de conformismo. Não. Essas pessoas têm algo de superior dentro de si, algo que as impulsiona a lutar e, se for preciso, até em campos situados além dos limites do racional, do factível e do humano contra as fatalidades, os infortúnios, contra os prognósticos mais realistas e virtualmente incontornáveis da chamada ciência positivista. Algo, talvez,  como o que se convencionou chamar de FÉ

Eu, de meu lado, sempre fui um inconformista. Mais por princípios que por convicções adquiridas. Tenho me debatido anonimamente, intransigentemente, levando aos limites extremos do que a sociedade convencionou considerar como dentro do razoável as minhas batalhas quixotescas pessoais - as de foro íntimo e as da coletividade humana. Tenho lutado contra o que considero afrontoso ao mínimo necessário à dignidade humana, contra a exploração do homem pelo homem e contra a interferência exagerada do Estado autoritário sobre as liberdades individuais. Contra o superimposto, mas também contra o dado por consumado e acabado, sobretudo no que se refere ao que possa interferir no que considero como o “meu controle pessoal e intransferível sobre o curso natural da minha vida”, meus sonhos e projetos mediatos e imediatos. E também contra aqueles convencionalismos sociais consagrados pelo uso e que considero idiotas e sem fundamento na dinâmica da vida ou na lógica mais elementar.
E não tenho dúvidas, amigos, por mais que me esforce na temperança, jamais poderei ser citado - com este meu humor oscilante - como exemplo de estoicismo, de fortaleza de ânimo, de austeridade impassível, imperturbável, sorridente, de luta travada do jeito que Alencar e Sonntag o fazem. Desculpem, mas acho que sou demasiadamente humano, egoísta e consciente da minha mortalidade para conseguir esse nível de sublimação, de renúncia moral, de estabilidade emocional. De nobreza de espírito. Provavelmente meus defeitos superem em número minhas virtudes.

Para mim não foi nada fácil acordar num dia qualquer do já longínquo mês de agosto e descobrir perplexo, nauseado, estarrecido, que já não era mais um ser humano e, sim, que me havia absurdamente transformado em algo como um inseto frágil e repulsivo.. Numa barata, mais precisamente, como acontece com Gregor Sansa, o caixeiro-viajante, no romance A Metamorfose, de Franz Kafka. Só que, comigo, a metamorfose não seria na forma. Iria além e se manifestaria no âmbito das minhas necessidades físicas essenciais, minhas emoções, meus sentimentos e, como um terremoto, embaralharia tudo o que eu começara laboriosamente desde o despertar da consciência a edificar como minha – precária, mas essencial – concepção, visão de mundo, minha sustentação religiosa, filosófica, ética, dialética e conceitual.
Confesso que me tenho deixado dominar às vezes pela síndrome da barata, pelo desânimo e pela revolta, chegando ao ponto de ser até grosseiro e mal-educado nestes momentos, como aconteceu na sexta-feira passada. É quando me sinto vulnerável, vagueando solitário no vale das sombras e me rebelo diante do fatalismo das realidades consumadas, contra o estar doente, a falta de liberdade, contra todas as limitações que tenho hoje para simplesmente sair de casa, trabalhar, andar de moto, tomar sol, ir às compras em qualquer lugar e sem preocupações com infecções, oportunistas ou não. Viver, enfim, a vida inocente que eu antes não valorizava muito, mas que agora gostaria de ter de volta.
Na obra A Força da Vida, do lendário desenhista Will Eisner, o personagem central Jacob Shtarkam, após ver ruírem todos os alicerces de sua vida e de seus sonhos, tentando manter-se vivo dentro de uma crise existencial, cruza com uma barata em seu caminho e pergunta-se qual seria a diferença entre um homem e um inseto como aquele. E conclui que, para uma barata, o viver já é o bastante. Mas para ele, além de viver, seria necessário também se perguntar por quê.

Tenho certeza que não teria dificuldade para responder a esta pergunta. 
Baixe aqui
A Força da Vida  e 
A Metamorfose
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Ontem, sábado, fomos almoçar na casa do João e da Preta. Tudo perfeito, como sempre. O papo, a música, as bebidas e as matrinchãs grelhadas ao molho vinagrete e a fraldinha também grelhada, com farofa que foram servidas no almoço.
Já não estava me sentindo muito bem quando voltei para casa. Os sintomas eram os mesmos que me levaram à “urgência” do Hemoam terça-feira passada. Febre, dor no peito, secreção, dor na garganta e nos gânglios em volta do pescoço, cansaço e mal-estar geral.
Como acordei pior hoje de manhã, resolvemos estrear o novo plano de saúde – Geap-Saúde, cujo período de carência já foi cumprido há mais de um mês. Fomos até a clínica Sto Alberto, na Cachoeirinha. Exame clínico, hemograma, nada de anormal. Mas me receitaram um antibiótico, Azitromicina, com posologia de 24 horas, tomei o 1º às 16:30 e agora, ãs 21:45 já estou me sentindo bem melhor. As coisas funcionam bem as vezes. :=]

sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

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O caso de José Alencar




Em 1997, Alencar descobriu que tinha câncer no rim direito e no estômago, após exames de rotina. Posteriormente, foram descobertos novos tumores na próstata, no abdômen e no intestino. Ele enfrentou com coragem e otimismo incontáveis sessões de quimioterapia e 15 longas cirurgias para extirpar tumores que teimam em retornar.
Ocorrência incomum

Em 2006, a saúde de Alencar sofreu novo revés e ele descobriu que padecede um sarcoma abdominal. Os sarcomas (do grego sarx = macio) são um grupo de tumores que ocorrem em tecidos de origem mesenquimal, como o conjuntivo – ossos, cartilagem e gordura –, ou nos músculos e vasos sanguíneos.
Os sarcomas acometem indivíduos de qualquer idade, porém a sua ocorrência é incomum, representando apenas cerca de 1% dos casos de câncer diagnosticados. A forma mais comum de sarcoma é conhecida como tumor estromal gastrointestinal e atinge cerca de 15 mil indivíduos por ano nos Estados Unidos, um número pequeno se comparado, por exemplo, com os mais de 200 mil novos casos de câncer de mama diagnosticados anualmente naquele país.
Alencar possui um lipossarcoma, um câncer de adipócitos que tipicamente apresenta nódulos formados por tumores satélites que se estendem como resultado de metástases surgidas a partir do sítio original ou primário. Esses nódulos são responsáveis pela maioria das lesões nesses pacientes.
O lipossarcoma é mais comum em indivíduos acima de 40 anos e causa perda de peso, dores e interferências funcionais sobre outros órgãos como rins e intestino. Anualmente são diagnosticados no planeta 2,5 casos desse tipo de tumor em cada milhão de habitantes.

Alimentando novos tumores
Um dos processos-chave para o desenvolvimento dos tumores secundários é a formação de novos vasos sanguíneos locais para a nutrição desses tumores. Desde que a importância dessa relação foi descoberta pelo médico norte-americano Judah Folkman (1933-2008), mecanismos que possam inibir esse processo têm sido estudados.
Um estudo com dois tipos de lipossarcomas realizado recentemente pela equipe de Folkman, da Universidade Harvard (EUA), com participação da pesquisadora brasileira Flavia Cassiola, e publicado no fim de dezembro de 2008 na revista científica Blood mostrou que as plaquetas sanguíneas estão envolvidas ativamente nesse processo.
Esses elementos sanguíneos transportam e liberam seletivamente os fatores que regulam a angiogênese, como o fator de crescimento vascular endotelial (VEGF, na sigla em inglês). A equipe de Folkman também observou que há um maior acúmulo de reguladores nas plaquetas de animais com tumores malignos.
Esses pesquisadores esperam que, no futuro, a avaliação dos níveis de fatores angiogênicos em plaquetas possa se tornar um meio prático para se diagnosticar, prever e mesmo tratar os lipossarcomas e outros tumores.

Atualmente, o tratamento tradicional desses tumores consiste normalmente na extirpação cirúrgica dos nódulos e tecido adjacente associada com sessões de quimioterapia. Contudo, esses procedimentos são pouco efetivos e mais da metade dos portadores de sarcomas morrem devido aos problemas decorrentes dessas patologias.

Tratamento experimental
Devido à pouca eficiência dos métodos terapêuticos tradicionais para combater o lipossarcoma, Alencar submeteu-se recentemente a um tratamento experimental no Centro Oncológico MD Anderson, um núcleo de excelência em pesquisas oncológicas localizado em Houston, nos Estados Unidos.

Alencar foi voluntário para estudos clínicos com um fármaco conhecido provisoriamente como R7112, que atua sobre o processo de multiplicação celular e em neoplasias. O R7112 regula seletivamente a interação entre Mdm2 e p53, duas proteínas associadas com a desregulação da proliferação, da diferenciação e da morte celular programada (apoptose) que ocorre nas neoplasias.

O gene p53 foi identificado em 1979 por Lionel Crawford, David Lane, Arnold Levine e Lloyd Old, que, na época, trabalhavam na Universidade de Princeton e no Instituto de Câncer de Nova Jersey, ambos nos Estados Unidos. A função de p53 foi demonstrada posteriormente por meio da reintrodução de uma versão funcional de p53 em células mutadas para esse gene. Esse processo causou a inibição de mitoses e da apoptose dessas células e, por outro lado, estimulou a diferenciação de algumas células tumorais, que, assim, perderam a sua capacidade proliferativa.
Pesquisas posteriores indicaram que as mutações no gene supressor tumoral p53 são encontradas em aproximadamente 50% de todos os tumores humanos. Elas ocorrem, por exemplo, em cerca de 40% dos tumores de mama, 50% dos tumores de pulmão e 70% dos tumores colorretais.
O exemplo de José Alencar, ainda que não possa redundar em benefícios próprios, será importante futuramente para todos, pois sua luta diária e sua perseverança frente às adversidades enfrentadas é um modelo a ser seguido por todos nós, brasileiros
Jerry Carvalho Borges
Universidade Federal do Vale do São Francisco (Univasf)
Leia aqui o material completo
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O vicepresidente da República, José Alencar, afirmou no último dia 11 que os médicos notaram uma redução de mais de 50% em seus tumores desde que ele reiniciou a quimioterapia em setembro. Lutando contra o câncer há anos, comemorou os resultados e disse que, se sua recuperação continuar neste ritmo, pode ser candidato a senador pelo seu partido nas próximas eleições, em outubro do ano que vem.
"O tratamento vem dando bons resultados, além naturalmente das orações e da corrente que se formou no Brasil a favor da minha saúde. Agradeço muito isso. Quando foi em outubro, fizemos exames de imagem, e o tumor havia regredido 30% de tamanho. Anteontem, foi feito um segundo exame, caiu mais 30%. Daqui a pouco vamos colocar o verbo no passado: 'Havia um câncer no José Alencar'", disse.




quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

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Eva Cassidy: Live at Blues Alley (1996)


Este é o primeiro album que ela gravou e na minha opinião o melhor. Se tivesse se deixado rotular e enquadrar nos esquemas comerciais da indústria fonográfica, ela hoje seria certamente uma das cantoras mais conhecidas no mundo. Passeia com elegância e desenvoltura entre o jazz, o rock, o soul, o blues e o country. Sua interpretação no disco do clássico Bridge over Troubled Water rendeu-lhe efusivos elogios da crítica inglesa e norte-americana. 
Noutro clássico, de 1945, Autumn Leaves - Feuilles Mortes no original francês, sobre o belo poema de Jacques Prévert - já interpretada por quase todos os grandes nomes  do panteão da música, consegue plasmar uma interpretação única, belíssima, cheia de sentimento e de originalidade. Um solo de piano de arrepiar...
Tracklist        01. Cheek to Cheek    02. Stormy Monday      03. Bridge over Troubled Water    04. Fine and Mellow      05. People Get Ready  06. Blue Skies        07. Tall Trees in Georgia    08. Fields of Gold        09. Autumn Leaves        10. Honeysuckle Rose      11. Take Me to the River      12. What a Wonderful World        13. Oh, Had I a Golden Thread
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Impostômetro: O Ministério da Saúde adverte...



Já tinham visto esta geringonça? Aposto que não. Software criado pelo IBPT e pela Associação Comercial de São Paulo, também conhecida por "tira a mão do meu bolso!",ela mede em tempo real a arrecadação de impostos aqui nas terras tupiniquins e ontem bateu na casa do 1 trilhão desde o início do ano.
De arrepiar, né? Mas isso ainda não é nada. Precisas é ve-la em ação. Confira:
impostometro Horripilante!!!!

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Ontem, 6o dia pós químio, os efeitos colaterais recomeçaram e Sandrinha me levou até a "ürgência" do Hemoam  É sempre assim quando termino de tomar a dose cavalar de prednisona e do omeprazol. Cefaléia, pressão no peito, tosse, secreção, coriza, e toda uma síndrome de disturbios gastrintestinais de cujos detalhes escatológicos eu os pouparei.

Nossa ida ao Hemoam foi muito educativa, mas pouco útil como auxílio terapeutico para mim. Aprendemos que eles lá decidiram modificar o conceito da palavra urgência - de modo a atender sua ineficiência operacional -, e que os pacientes que chegam de urgência são triados para atendimento de acordo com um protocolo que leva em consideração a ordem de chegada.

Risível, se não fosse trágico! Depois de tentarmos argumenter fazendo de tudo para que a razão prevalecesse, o único médico da urgência (uma médica) apareceu finalmente. Estava tão impregnada de um  certo perfume, enjoativo e adocicado, já naquelas primeiras horas da manhã, imaginem, que nem parecia alí  estar para dispensar cuidados a enfermos, a pacientes submetidos a quimioterapia e portanto suscetíveis aos enjôos. 

Depois de mais de uma hora aguardando na "urgência" do Hemoam, Sandrinha ligou para uma das filhas, Renata, que é médica, e foi ela que nos ajudou a superar a crise. Exame clínico, radiografia medicação, tudo ok. Hoje estou melhor... :=]