Um vírus
sexualmente transmissível e tradicionalmente ligado a câncer do pênis, ânus e
colo do útero está sendo relacionado cada vez mais, também, a tumores na boca.
A explicação para a maior presença do HPV
(papilomavírus humano) nos casos desses cânceres é o aumento da prática de sexo
oral nas últimas décadas, em especial entre jovens. Em 2005, 55% dos garotos e
54% das garotas entre 15 e 19 anos já tinham experimentado essa modalidade,
segundo o Centro Nacional de Estatísticas da Saúde dos EUA.
Nas décadas de 1940 e
1950, é claro, os estudos de Alfred Kinsey, pioneiro no mapeamento dos hábitos
sexuais dos americanos, indicavam números bastante diferentes. Apenas 10% dos
homens e 19% das mulheres daquela época disseram ter praticado sexo oral antes
do casamento - apesar de menos de 50% das mulheres e de 33% dos homens terem
casado virgens.
Com isso, se tornaram
mais frequentes, a partir do pós-guerra até hoje, os casos de câncer na base da
língua, na amígdala e até em partes do pescoço, que surgem a partir de lesões
causadas pelo HPV. Essas conclusões estão em um artigo de opinião publicado em
março no "British
Medical Journal" pela equipe do médico Hisham Mehanna, do
Hospital Universitário de Coventry, no Reino Unido.
Ele relata um
trabalho com mais de 10 mil voluntários. A conclusão: quem já tinha feito sexo
oral com quatro ou mais pessoas tinha uma chance mais de três vezes maior de
ter câncer na orofaringe (que começa na raiz da língua e vai até a faringe) do
que quem não tinha.
Outro estudo citado
por Mehanna foi feito na Suécia por quase 40 anos. Ele envolveu procurar pelo
HPV em biópsias de tumores retirados da orofaringe. Nos anos 1970, o vírus foi
encontrado em apenas 23% dos tumores. Em 2006 e 2007, foi achado em 93%.
Como o número de
casos de câncer na orofaringe está crescendo, e não diminuindo, é possível
concluir que o HPV nunca antes causou tantos tumores na boca e adjacências.
A maioria das pessoas
serão infectadas pelo HPV em algum momento das suas vidas. E, em geral, o vírus
vai embora sem deixar nenhuma lesão. Segundo Dias, é importante lembrar,
também, que as pesquisas sobre a relação entre HPV e câncer na boca não estão
totalmente consolidadas.
"Os mecanismos
de infecção ainda não são totalmente conhecidos. Embora também seja uma mucosa
como a genital, as características do ambiente e a resposta imune das duas
regiões são bem diferentes." "Mais pesquisas precisam ser
feitas", concorda Mehanna.
Já existem vacinas
contra o HPV. Ainda se discute se vale a pena incluí-las no Programa Nacional
de Imunização. Ela é cara (o valor chega às centenas de reais por unidade) e os
cientistas ainda questionam a abrangência da sua eficiência.
Por enquanto, afirma
Dias, o mais importante são exames periódicos na boca, porque as lesões
iniciais são pouco perceptíveis e o diagnóstico acaba acontecendo quando o
tumor já está em estágio avançado. "O médico olha direto para a garganta e
o dentista, apenas para os dentes", brinca.
Fonte aqui.
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