quarta-feira, 4 de agosto de 2010

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Uma olimpíada às avessas no Brasil


Dramática a situação destes pacientes e seus familiares.
Estamos em plena campanha política para a Presidência da República. O candidato do PSDB apresentou seu pedido de registro de candidatura ao Tribunal Superior Eleitoral, onde previu até R$ 180 milhões de gastos com a campanha. O PT também divulgou seus números, R$ 157 milhões é a previsão de gastos na campanha de sua candidata.
Vamos sediar os primeiros Jogos Olímpicos a serem realizados na América do Sul e a próxima Copa do Mundo de Futebol, eventos de dimensão planetária, e que envolvem dispêndios astronômicos em investimentos de infra-estrutura e suporte técnico. Maior orgulho nacional.
E, no entanto, do outro lado, no campo das necessidades básicas do ser humano, do cidadão, o direito constitucional basilar aos tratamentos básicos de saúde faz parte dos dados estatísticos de uma olimpíada cruel, que não mostra abertamente a cara para a mídia e carece de patrocínios comerciais milionários e glamurosos. Leiam este artigo de Sandra Sterling, publicado hoje.
Pedido de ajuda para as crianças com retinoblastoma

Sandra Starling
Advogada e cientista política - sandrastarling@hotmail.com
Há anos conheci a dor de famílias em que nascem crianças com retinoblastoma: câncer nos olhos, uma doença não tão rara assim e que é descoberta através de uma mera foto, dessas que todo mundo tira de seus pequeninos. Uma mancha branca nos olhos acende o sinal de alarme e começa aí o calvário dessas pessoas. O mal acomete brancos, pardos, negros, ricos e pobres e, quando a sorte colabora, essas crianças são submetidas a uma cirurgia para extração do olho e no lugar é colocada uma prótese.
Imaginem o drama porque a prótese tem de ser trocada à medida que a criança cresce e há fila de espera no SUS. Além disso, é claro, há todo o processo comum em todos os casos de câncer que conheço. O paciente passa por constantes avaliações médicas para controle da doença. De início, esse controle se faz de 15 em 15 dias, conforme o caso de 21 em 21 dias, depois todo mês, de seis em seis meses, de ano em ano e assim pelo resto da vida.
A criança que conheço tem duas vantagens: ela própria, muito linda e muito esforçada, brinca como qualquer outra menina de sua idade. A mãe, batalhadora, luta dia a dia para que as crianças todas, e não somente a sua, tenham a atenção que o sistema de saúde é obrigado a conceder. O pai vive longe trabalhando, mas a menina tem nele uma forte referência, como de resto nos avós, tias e primos que a cercam.
Só quem já sofreu ou tem alguém próximo que teve câncer sabe a tensão que envolve todo esse tratamento. Dias e dias seguidos para estar no local certo, na hora certa, para se submeter às formas de tratamento que, não se pode esquecer, são sempre ruins para quem a elas se submete. Seja a radioterapia, ou a quimioterapia, sejam ultrassons ou raios-X, ressonâncias - todas as formas de busca da cura trazem um enorme desgaste para quem teve a doença e, evidentemente, para as pessoas que estão à sua volta.
No caso da retinoblastoma, as crianças têm de fazer o exame de fundo de olho na periodicidade que seu caso requer, e que é também variável. O exame de fundo de olho comumente é feito para verificar a pressão intraocular e se torna um exame rotineiro e muito necessário para quem sofre de hipertensão. A sensação com o exame é desagradável, embora indolor. No caso das crianças com esse tipo de câncer, para ser feito, o exame é mais minucioso e requer a aplicação de anestesia.
Aí reside, agora, o drama para as famílias que aqui em Belo Horizonte buscam a cura e o tratamento de seus meninos. O tratamento é feito por um único, abnegado, médico: o dr. Fábio Nogueira, no Hospital São Geraldo, ligado ao Hospital das Clínicas. Toda quinta pela manhã, lá estão geralmente as mães levando suas crianças para esse exame. Atualmente, cerca de 40 estão fazendo o exame. Há mais outro contingente igual na fila de espera. Sem sedação, não se faz o exame.
Acontece que o anestesista foi demitido e, segundo dizem, o que pagam por jornada de 12 horas (menos que um salário mínimo) está impedindo nova contratação.
Esse é o pedido de ajuda que as famílias fazem e eu faço com elas. Quem pode ajudar nossas crianças, contratando o necessário anestesista?

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