Mafalda, de Quino
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Hoje tive que sair cedão para pegar a senha de atendimento no laboratório do Hemoam e colher sangue. Novo hemograma, mesmo já tendo feito isso ontem na urgência da Clínica Sto Alberto. É que eles lá não abrem mão: o exame deve ser feito por eles. Acho isso válido, que se queira ter esse tipo de controle sobre um tratamento tão caro e, olhando de certo ponto de vista, incomum.
Mas já sei que meus leucócitos ainda estão no que eu chamo de "fase pre-bombante" e que até o dia da próxima químio eles estarão com tudo em riba, refeitos. Como sempre. a sala de espera do laboratório estava lotada, o ar condicionado bombando. Algumas pessoas portando máscaras descartáveis.
Enquanto espero minha vez de ser furado, fico bisbilhotando. A maioria é de adultos e mulheres, todos gente muito simples, acostumada a acordar sempre bem cedo para conseguir ser atendido um pouco mais rápido, no SUS ou em qualquer outro serviço público. Sente-se sempre no ar um odor de álcool misturado a algo que ainda não consegui distinguir. Os que chegam mais tarde ficam de pé, resignados, dispostos a esperar o tempo que for necessário.
Ninguém lê para passar o tempo, enquanto aguarda. Os mais jovens, trajando roupas coloridas e tênis vistosos se ocupam constantemente de seus celulares e portam auriculares para escutar música direto deles. Aqui e alí uma criança chora. Alguém tosse e todo mundo olha em sua direção. Um senhor por volta de seus 60 anos entra de mãos dadas com uma velha senhora - que teria idade para ser sua mãe - e logo percebe-se que ela é que é a paciente. Ele é muito cuidadoso e se comporta como um privilegiado por estar podendo ajudar, cheio de gentilezas e atenções. Acabo sendo expulso da sala pelo odor incrivelmente forte e enjoativo de âmbar sintético que invade o ambiente com a entrada de uma mulher morena, ainda jovem, com um garoto pela mão.
Fato curioso é que as crianças, as garotinhas que portam alguma enfermidade hematológica, pelo menos as que se tratam no hemocentro, aqui no Amazonas, são vestidas pelas mães invariavelmente de côr-de-rosa, dos pés à cabeça, pois todas usam mesmo algum tipo de calçado, meia, chapeuzinho, gorro, boné e também usam algum tipo de bolsinha. Elas vão chegando, caladinhas, devagar, as cabecinhas peladas protegidas pelo chapeuzinho, algumas abraçadas com um ursinho, uma boneca. Muitas, acostumadas às torturas da quimioterapia, já sabem o que as espera na sala de coleta, ao lado, de onde já se pode ouvir os apelos de cortar o coração daqueles cujos pais conseguiram acordar de madrugada.
E amanhã tenho que voltar lá, cedinho, para uma nova consulta médica. :=[
2 Comentários:
Daniel aqui é o Juliano ,eu comprei o café que vc me pediu, me mande seu endereço completo, abraço pra vc e pra sandra .
Meu email é godoijuca@hotmail.com
Juliano
Sua descrição é muito próxima da realidade.E esse quadro se repete em TODA unidade de saúde do estado. O amazonense é um acomodado e protestar pelos seus direitos lhe parece baderna.sds
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