quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

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Risco de seca intensa na Amazônia pode ser 10 vezes maior em 2030

As chances de ocorrerem períodos de intensa seca na região da Amazônia podem aumentar dos atuais 5% (uma forte estiagem a cada 20 anos) para 50% em 2030 e até 90% em 2100, informam cientistas do Hadley Centre.


Seca – setembro de 2005. Maior seca do rio Amazonas em 30 anos. O Rio Negro é um afluente da margem esquerda. Manaus está situada na margem esquerda deste rio.


Cheia – Junho de 2009. Rio Negro, afluente da margem esquerda do rio Amazonas. Maior enchente desde 1902, superando a marca histórica de 1953.

As fotos acima mostram a região da praia da Ponta Negra, tendo ao fundo o imponente prédio do flat do Tropical Hotel Manaus. Percebam como é muito grande a diferença do nível das águas do Rio Negro.

Um dos casos estudados durante o encontro em março/2007 na Universidade de Oxford, na Grã-Bretanha, onde especialistas em mudanças climáticas debateram temas críticos sobre o futuro do planeta foi a forte seca ocorrida na região da Amazônia, há dois anos. As imagens de centenas de peixes apodrecendo no rio Amazonas, o maior rio do planeta, chocaram o mundo. Eram as imagens da estiagem de 2005 na região da Amazônia. Em algumas áreas, a seca superou todos os recordes desde que se começou a medir estatísticas climáticas do local. O governo brasileiro teve de declarar estado de emergência.

O mundo pode ter esquecido a seca de dois anos atrás, mas a comunidade científica não. Especialistas tentam agora entender se o aquecimento global causou a seca e qual foi o grau de devastação causado por ela. Há consenso entre os cientistas de que a seca de 2005 não estava relacionada com o fenômeno El Niño, como grande parte das secas na Amazônia, mas sim com o aquecimento da superfície na área tropical do Atlântico do Norte.

'Colapso da Amazônia'


O professor de dinâmicas de mudanças climáticas da Universidade de Essex, na Grã-Bretanha, Peter Cox, diz acreditar que os mesmos fatores que causaram a estiagem devem se repetir. "Não podemos dizer com certeza que a seca como a que ocorreu em 2005 foi causada pelo aquecimento global", disse Cox. "Mas podemos dizer que a probabilidade de um evento como esse vai aumentar como conseqüência da mudança de clima induzida pelo homem, podendo se tornar bastante comum até o final do século", afirma Cox.


Fator humano


Há menos dúvidas sobre o impacto e a natureza rara da seca de 2005. "Foi muito atípica tanto pela localização como pela intensidade", diz Nobre."A maior parte da secas na Amazônia acontece no nordeste da floresta, mas esta começou no oeste e no sudoeste, e seu impacto se espalhou até o centro e o leste."

Próximo a Manaus, o nível do Amazonas chegou a ficar três metros abaixo da média. Muitas comunidades dependentes do rio para transporte ficaram ilhadas com a seca dos afluentes. Pela primeira vez, houve registro de incêndios generalizados no sudoeste.


Uma nova pesquisa do cientista Luiz Aragão, do Instituto de Mudanças no Meio Ambiente de Oxford, aponta a extensão dos incêndios. "Uma área de 2,8 mil quilômetros quadrados foi perdida devido a uma proliferação extensiva de incêndios em florestas", afirma o estudo. A pesquisa de Aragão mostra que os incêndios ocorreram principalmente em áreas onde há atividade humana. Em outras regiões afetadas pela seca, onde há poucas pessoas, como no sudeste do Peru, havia pouca evidência de fogos.


Alto impacto


As previsões mais alarmistas para a Amazônia indicam que a combinação de incêndios, secas, desmatamento, mudanças no uso da terra (como plantação de soja) e aquecimento global vão empurrar a Amazônia para o limite de um ciclo de destruição. Cientistas na conferência em Oxford alertam que não sabem ainda qual é o risco exato de isso acontecer, mas falam em "corredores de probabilidade".


Mas, por mais baixa que seja a probabilidade, mudanças na Amazônia devem ter um alto impacto no clima global.


Como disse um dos conferencistas: "você não entraria em um avião se você soubesse que há 10% de chance de ele cair".


Editado do texto original de
James Painter, da BBC Brasil
De Oxford, 23/03/07






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