Um hemocentro não é como uma padaria (2)

Ou: Valei-nos Nossa Senhora da Conceição!

Ou ainda: A farra no Hemoam continua.

Perdoem-me os panificadores pela comparação. Eu só a fiz no sentido de que quando uma padaria eventualmente fecha - ao contrário de um hemocentro, que é único – sabemos que existem centenas de outras padarias funcionando espalhadas pela cidade.

Sexta-feira à tarde, 4, recebi uma ligação em casa. Uma voz de mulher perguntou: - o “seu” Antonio se encontra?(é assim que me tratam quando não me conhecem, e eu já fico na moita).  Estive tentado a responder: - “Depende, se procurar direitinho...” -, mas me limitei a perguntar quem desejava falar com ele.

Depois de muito relutar em se identificar, desconfiada, acabou confessando que era assistente social do HEMOAM, que se chamava Eliete e que ligava da parte da enfermeira “Nazaré” apenas para informar (!) que minha quimioterapia, já adiada do dia 02.12 para o dia 07.12, havia sido novamente adiada para a próxima quarta-feira, dia 09.12, exatamente uma semana após a data prevista pelo protocolo que sigo - ou que seguia, sei lá. Perguntei então se o Dr. Nelson Fraiji, que é o hematologista que está me tratando, já estaria ao par disso tudo, e ela me respondeu que não sabia.

Ligamos para o Dr. Nelson. De fato, ele não sabia. Além disso, confessou-se indignado com a decretação de ponto facultativo no HEMOAM, nesta segunda-feira, “imprensada”, imaginem, por causa do feriado nacional de terça-feira, 08.12, dia de N. Sra. da Conceição, padroeira dos brasileiros (e amazonenses também, espero). Então...

- VALEI-NOS NOSSA SENHORA DA CONCEIÇÃO!!!

Não permita que os seus filhos que ocupam cargos-chave na saúde pública adotem medidas demagógicas, politiqueiras e irresponsáveis - beeem no seu dia - que têm como único objetivo a manutenção de seus cargos públicos;

Não permita que os seus filhos funcionários públicos, principalmente os que atuam na área de serviços essenciais, usem o seu dia indignamente como pretexto para não trabalhar nas unidades de saúde e não atender os enfermos, que ficam à mercê dessa leviandade;

Proteja os seus filhos portadores de enfermidades e que dependem dos cuidados dos profissionais e das autoridades de saúde do Amazonas, principalmente no seu dia, Nossa Senhora;

E, finalmente, mas não por último, Nossa Senhora, proteja nossos exemplares irmãos padeiros. Eles são uma das poucas e raras categorias de honrados trabalhadores brasileiros que começam a labuta já de madrugada, não importando se é sábado, domingo ou feriado, e o ponto facultativo que conhecem é o da parada de ônibus mais próxima.

P.S.: Inviável manter contato com os demais hemocentros do Brasil, são dezenas. Mas tenho certeza de que a política de atuação e a ética profissional falam mais alto que os interesses levianos. O Hemopa, de Belém, por exemplo, funcionou ontem e está funcionando hoje.