sexta-feira, 13 de maio de 2011

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Câncer de próstata e disfunção erétil: um depoimento

Os tratamentos empregados nos casos de câncer de próstata podem levar à impotência masculina e sua incidência é proporcional à idade do paciente. Nos indivíduos com 40 anos, a probabilidade é de 6%; nos de 70, cerca de 70%.
Leia este depoimento maduro e equilibrado de Dana Jennings, um homem que enfrentou e venceu o câncer de próstata com a ajuda e a cumplicidade da companheira e que hoje, tentando superar com dignidade a sequela da disfunção erétil, considera esta condição em relação aos valores de uma sociedade cada vez mais superficial, materialista e alheia aos valores da individualidade, na qual temos que conviver sem manual de sobrevivência.

Venci o estágio 3 do câncer de próstata – e seu tratamento – em boa forma. Quase dois anos após descobrir que tinha câncer, sou um homem ativo de 52 anos; exercito-me regularmente, meus exames de sangue têm os resultados que deveriam ter e meu oncologista só quer me ver duas vezes por ano.

Mesmo assim, um efeito colateral de meu tratamento se mostrou particularmente teimoso: a disfunção erétil. Após uma prostatectomia aberta extrema, radiação e tratamento com hormônios, é difícil colocar o velho motor do desejo para funcionar. E agora que estou cuidando de minha depressão pós-tratamento com Zoloft – que também atrapalha a função sexual –, algumas vezes não consigo nem encontrar minhas chaves. Ah, e meu nível de testosterona também está baixo.

Apesar disso, não reclamo. Não há vantagem em estar duro e morto.

O câncer de próstata e seu tratamento atacam os homens onde eles vivem, frequentemente causando impotência e incontinência (meu controle da bexiga voltou gradualmente, mas ainda posso ser pego de surpresa por um espirro inesperado).

Não que eu esteja pronto para recolher minha tenda. Somos criaturas sexuais, afinal de contas, e estou trabalhando com meu cirurgião para recuperar aquela parte de mim mesmo. Nos últimos dois anos, entretanto, insisti em tentar aprender o que o câncer poderia me ensinar. E aqui estou, apenas tentando entender, tentando articular como é ser uma mercadoria com defeito em nossa cultura sexualizada.

Nós nos afundamos numa cultura superficial de sorrisos forçados, falsidades e insinuações. A insaciável objetificação do corpo – em homens e mulheres – acelera, atingindo velocidades tão altas que as objeções nem mesmo são ouvidas sob o rugido da mídia de massas.

Somos obrigados a cultuar “abdominais de tanquinho” e bíceps altos como o Everest, seios impossivelmente pontudos e nádegas de titânio. Às vezes, parece que cada imagem cuspida pela mídia eletrônica ressoa como apenas um assunto nas entrelinhas, e nada sutil: sexo.

Com tudo isso, onde fica um homem com disfunção erétil?

Não estou muito interessado na mecânica biofísica masculina, no Levitra, Viagra e Cialis (uma ereção que dura mais de quatro horas? Que tal quatro segundos?), em injeções e bombas penianas.

Para mim, os comerciais de pílulas mágicas nunca pareceram tocar a nota certa. Os homens sempre parecem furtivos, como adolescentes comprando preservativos. Mas a hombridade não diz respeito a feitos prodigiosos ao se fazer amor, ou a quantos parceiros você consegue satisfazer. Não existem padrões oficiais.

A verdadeira hombridade trata-se de amor e de ternura. De responsabilidade e de honra. De trabalhar duro e criar seus filhos da maneira que você acha melhor, com amor, respeito e disciplina.

Sim, minha função erétil ainda é um trabalho em desenvolvimento, mas não me sinto diminuído; não me sinto menos homem. Minha voz ainda é profunda como sempre, meus olhos são de um azul metálico. Ainda aprecio uma boa cerveja escura, e posso segurar as pontas numa blitz de segurança (embora às vezes me sinta tentado a dizer: “Está tudo bem, meninas, sou inofensivo”).

A libido chega e vai embora nas horas mais estranhas. Porém, curiosamente, sinto que a vida que minha mulher, Deb, e eu levamos está mais íntima do que nunca. Eu era aquele que estava doente, mas nós espreitamos o gélido abismo do câncer juntos. Enquanto eu era esmurrado por diagnóstico, tratamento e consequências, ela era minha apoiadora, minha confidente, minha incansável enfermeira. E tudo o que ela fez era recoberto por seu amor por mim.

Era uma intimidade além das palavras. E, acredite, eu tenho muito a retribuir se algum dia tiver que cuidar de Deb.

A verdadeira intimidade não diz respeito exclusivamente à mecânica da carne. É também o cheiro de um certo xampu no cabelo, um toque casual na cozinha, o gosto de uma sopa fria de amora num dia quente de verão ou seu coração se derretendo ante a visão de sua mulher há 28 anos, dormindo profundamente após a meia-noite.

Apesar de tudo o que aconteceu nos últimos dois anos, sou um homem de sorte. Amo meu trabalho, sou abençoado com dois filhos adoráveis, e tenho minha mulher gentil e indispensável para abraçar nestas frias noites de inverno.

O resto vai se recuperar a seu tempo.

*Dana Jennings é jornalista do The New York Times e passou por tratamento contra câncer.
Traduzido de matéria publicada no New York Times. Editorial pelo autor do blog.

1 Comentário:

Regina Marta Colares disse...

Que coisa bonita! Este depoimento é uma prova de que apesar de tudo, dos Obamas, dos Osamas, dos vazíos e dos cheios de sí, ainda existe este sentimento sublime e fantastico chamado amor. Adorei o blog