quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

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Terapia-alvo: Jim Martin, de Louisville, Kentucky é um dos primeiros pacientes de câncer que deve sua vida a uma nova linha de drogas guiadas por testes de DNA.

Em maio de 2007, Martin, agora com 44 anos, foi diagnosticado com um tumor quase do tamanho de uma bola de futebol americano, que comprimia tanto seu estomago que ele mal podia beber uma xícara de café. O câncer era tão obscuro que os especialistas de cinco hospitais não puderam concordar exatamente sobre sua origem, só em que era um tumor maligno e muito agressivo. Os cirurgiões o removeram e os médicos colocaram Martin em quimioterapia, mas não ajudou muito. No início de 2008, sete tumores do tamanho de uma bola de golfe já tinham crescido.
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esesperado, ele e sua mulher se debruçaram sobre os relatórios de patologia e descobriram que um dos hospitais, o Dana-Farber Cancer Institute, fizera um teste genético que revelara que seu tumor tinha um defeito em um gene no segundo cromossomo, chamado ALK. E, como ele teria sorte - pra variar - a Pfizer estava justamente começando um pequeno ensaio clínico no Dana-Farber com uma nova droga, uma pílula, crizotinib, e ele conseguiu ser incluído nos ensaios. 
Com um mês de tratamento os tumores de Martin começaram a encolher, e até o final do ano quatro deles haviam sumido. Os outros três foram removidos cirurgicamente. Hoje, Martin continua tomando a droga e não tem nenhum sinal visível do câncer. "Isso foi um milagre para nós", diz ele. "Eu sinto que nasci de novo." Ele está bem o suficiente para pedalar 100 quilômetros por semana e até competir.
Se os investigadores do câncer tiverem os meios necessários, cada vez mais pacientes no futuro serão tratados da forma como Jim Martin o foi. Eles não irão receber o tratamento padrão, com base no local onde começou o tumor no corpo. Em vez disso, seu tratamento será personalizado, dependendo de quais mutações genéticas terão sido encontradas dentro de seus tumores.
"Este é um mundo completamente novo da medicina genômica", diz George Demetri, oncologista do Dana-Farber. "Nesse novo tipo de ensaio clínico que estamos tentando desenvolver não importa se você tem câncer de ovário ou de pulmão ou de estômago. Se você tem o defeito genético alvo da droga, você se qualifica.”
Para a Pfizer, essa seria uma forma eficiente de se obter drogas mais rapidamente para o mercado, sem a necessidade de estudos gigantes em todos os cantos onde haja um alto risco de fracasso. O tipo mais comum de câncer com a alteração ALK é o câncer de pulmão. Aproximadamente 5% dos pacientes com câncer de pulmão têm alterações genéticas no gene ALK, ou seja, cerca de 9000 doentes americanos por ano.
Em outro estudo publicado também no New England Journal of Medicine, os médicos relatam que 57% dos 82 pacientes com câncer de pulmão com a alteração do gene ALK experimentaram um dramático encolhimento do tumor com a droga da Pfizer. A Pfizer já está em fase final de testes da droga e tem esperanças de poder solicitar sua aprovação no próximo ano para tratamento de câncer de pulmão. Ela será comercializada junto com um teste de diagnóstico para detectar quais os pacientes que têm a alteração genética.
O medicamento da Pfizer não é uma cura milagrosa para a maioria dos pacientes. No câncer do pulmão, ele mantém a doença sob controle por um período médio de nove meses. Tem efeitos colaterais, incluindo distúrbios da visão e inchaço nas pernas. Não foi comprovado o prolongamento da vida.
No entanto, no geral, inéditos 90% dos pacientes de câncer do pulmão parecem obter algum benefício com a droga, diz Ross Camidge, da Universidade do Colorado. Alguns pacientes podem se beneficiar do crizotinib até mesmo depois que alguns de seus tumores começam a regredir. Em um paciente cujo câncer se espalhou, os médicos foram capazes de tratar o tumor cerebral com radiação, enquanto o resto dos tumores permaneceu sob controle com o crizotinib.
Um problema com o câncer de pulmão agressivo é que ele pode surgir com novas mutações, mais rápido do que os pesquisadores podem chegar a novos medicamentos. Um terceiro artigo no New England Journal dá um exemplo do Japão, onde um paciente de 28 anos de idade, que inicialmente respondeu à droga da Pfizer, cinco meses depois, voltou a ter os tumores crescendo novamente. O tumor tinha desenvolvido as mutações que o tornaram resistente à droga.
"Com todas estas terapias-alvo, há uma resistência que se desenvolve", diz o oncologista Gregory Riely, do Memorial Sloan Kettering Cancer Center. "Por mais que compreendamos o processo de desenvolvimento da resistência, o melhor que temos podido fazer tem sido contorná-la" E acrescenta: "É impressionante que estejamos publicando o mecanismo da resistência ao mesmo tempo em que estamos divulgando os dados experimentais."
Agora que um mecanismo de resistência já está conhecido, as empresas podem começar a trabalhar melhor as drogas de segunda geração para evitar o problema. Muitas outras empresas, como a Novartis, Ariad e Cephalon estão trabalhando no desenvolvimento de drogas para o bloqueio do gene ALK.
Traduzido e condensado de MGH Cancer Center. Leia matéria original aqui.
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