quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

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Biotecnologia e Imunoterapia: planta do tabaco para vacinas contra linfomas

Um ensaio clínico internacional, com a participação dos Estados Unidos, da Espanha e da Alemanha utiliza as folhas da planta do tabaco - a mesma que em outras circunstancias servem de base para a fabricação de fumo - na produção de vacinas personalizadas contra o linfoma folicular.
O linfoma folicular é um tipo freqüente de câncer que se caracteriza por um crescimento dos linfócitos B, que são células que fazem parte do sistema imunológico do organismo. A incidência desta patologia é elevada. Na Espanha, por exemplo, a cada ano se diagnosticam 5 mil novos casos em pessoas maiores de 40 anos.
O trabalho foi apresentado na 52ª reunião anual da Sociedade Americana de Hematologia encerrado anteontem, em Orlando, EUA.
O
 novo ensaio, dirigido pelo investigador Maurizio Bendandi, especialista em hematologia do Centro de Investigación Médica Aplicada (CIMA) da Universidade de Navarra, na Espanha, tem como objetivo produzir, a partir de folhas de plantas de tabaco, vacinas idiotípicas, personalizadas contra o linfoma folicular.
O estudo está sendo financiado pela farmacêutica alemã Bayer e conta com a participação dos especialistas de Navarra, já que a empresa alemã os selecionou em função dos bons resultados obtidos desde 2006 com as primeiras vacinas idiotípicas.
O objetivo prioritário da Bayer com este ensaio é valorizar a eficácia das proteínas obtidas com a nova tecnologia, capaz de encurtar o prazo de produção destas vacinas para apenas 6 semanas. Para se ter uma idéia, atualmente o tempo de elaboração destes preparados personalizados leva cerca de 9 meses, dada a complexidade da produção de um medicamento individualizado para cada paciente.
Uma vacina idiotípica é um fármaco elaborado com as células tumorais do próprio paciente. Elas apresentam na superfície uma proteína, denominada imunoglobulina, que tem uma parte específica que é o idiotipo. Esta proteína de superfície, depois de manipulada adequadamente, pode ser utilizada como vacina terapêutica, já que representa um antígeno (substancia capaz de estimular o sistema imunológico) específico para esse tumor específico.
O objetivo da vacina é ativar o sistema imunológico para que reconheça e destrua as células tumorais. Este procedimento poderá vir a ser útil para a maioria dos linfomas não-Hodgkin, e não apenas para o linfoma folicular, já que nos linfomas sabe-se claramente qual é o antígeno contra o qual se deve dirigir a resposta.
A previsão é de que a investigação se desenvolva até 2012 com uma amostra de 20 pacientes. O recrutamento, a biópsia dos gânglios e posterior tratamento dos enfermos estão ao encargo do Southwestern Medical Center de Dallas, nos EUA. Uma metade do material obtido na biópsia é enviada aos laboratórios da Universidade de Navarra, a outra metade vai para Halle, Alemanha, onde os técnicos da Bayer isolarão o material genético que será utilizado na produção da vacina.
O processo de elaboração das vacinas na Alemanha começa com a extração da informação genética que codifica o antígeno das células tumorais do paciente. Esta informação é introduzida então em um vírus que, por sua vez, é inoculado em uma bactéria. Em seguida, a bactéria infetará a planta do tabaco, que assim assimila a informação genética e começa a fabricar a proteína do tumor humano (idiotipo). Posteriormente, esta proteína será submetida a um processo de purificação para, a partir dela, elaborar a vacina.
A vacina personalizada assim obtida na Alemanha será então enviada a Dallas, onde será ministrada ao paciente correspondente. Uma injeção subcutânea que se aplicará, em cada um dos casos, uma média de seis doses durante 6 meses.
Os especialistas da Universidade de Navarra são os responsáveis pela avaliação da resposta de cada um dos pacientes.
Traduzido e condensado de RNW. Leia texto original aqui.
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