quinta-feira, 23 de setembro de 2010

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Novas terapias anticâncer trazem esperança, mas também decepção.


Bloquear anomalias que provocam o crescimento dos tumores é um desafio constante. Entusiastas das terapias dirigidas defendem que, no futuro, os tumores acabarão sendo caracterizados pelos seus perfis moleculares – pela assinatura genética ou genes mutantes que eles têm – em vez da parte do corpo que eles afetam, dando fim a denominações como câncer de mama, câncer de pulmão, câncer disso e daquilo. E os medicamentos serão escolhidos com base nesse perfil.
A quimioterapia convencional normalmente funciona matando as células que se dividem rapidamente. Isso significa que ela também pode atingir as células normais, causando efeitos colaterais como perda de cabelo, náusea, diarréia e anemia. As terapias dirigidas, em contrapartida, miram as proteínas que contribuem para o crescimento ou sobrevivência do tumor. Isso pode significar maior eficácia e menos efeitos colaterais. Vários remédios dirigidos são usados hoje e melhoram os tratamentos. Os medicamentos, porém, têm seus próprios efeitos colaterais. Em muitos casos, eles funcionam melhor em conjunto com a quimioterapia.
O medicamento experimental PLX4032, que reverte os efeitos de uma mutação encontrada em certos tumores, é considerado um grande exemplo das "terapias dirigidas" que teremos no futuro para o combate ao câncer. O medicamento produziu resultados milagrosos em alguns pacientes com melanoma.
Mas, quando o mesmo medicamento foi testado em pacientes com tumores colorretais com a mesma mutação, quase não houve efeitos, relataram pesquisadores na semana passada durante o encontro da Sociedade Norte-americana de Oncologia Clínica. Era o mesmo remédio, mas os resultados foram diferentes.
Essa descoberta serve como outro lembrete de como o câncer é complexo e de que ainda há muito a ser estudado sobre essa doença. Os estudos questionam o entusiasmo acerca das terapias dirigidas, que agem para bloquear anomalias específicas que provocam o crescimento dos tumores.
Apesar de os pesquisadores elogiarem o sucesso dos medicamentos mais recentes, eles reconhecem que os avanços não vêm acontecendo com a facilidade que eles previam. Muitas terapias dirigidas não estão se saindo muito bem nos ensaios clínicos.
"Passamos por um período muito rápido de grandes expectativas, maturação e decepções", disse Leonard Lichtenfeld, vice-presidente da Sociedade Norte-Americana do Câncer. "Fomos ingênuos ao pensar que, achando o alvo, teríamos a cura".
Após um período de muitos ganhos - que culminou com a aprovação em 2004 de dois medicamentos direcionados, Avastin e Erbitux -, o progresso contra o câncer colorretal estagnou. Nos últimos cinco anos, não houve avanços significativos.
Uma das estrelas da conferência oncológica foi a Pfizer, cujo medicamento experimental, Crizotinib, diminuiu os tumores que tinham uma anomalia genética específica, em quase todos os pacientes com câncer de pulmão. A anomalia foi descoberta há apenas três anos, e o remédio está entrando no mercado.
Entretanto, a Pfizer teve várias falhas nos ensaios clínicos de outros medicamentos dirigidos. Seu remédio para câncer renal, Sutent, não funcionou como tratamento para cânceres de mama, cólon e fígado.
Outro remédio que bloqueia uma proteína, chamada "fator de crescimento semelhante à insulina", também não teve êxito no tratamento do câncer de pulmão.
THE NEW YORK TIMES, Traduzido por André Luiz Araújo. Editorial e edição de ilustração pelo autor.

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