sábado, 2 de janeiro de 2010

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Nelson-Aranha-Sonntag: o guerreiro gaúcho da luz austral.


Aos poucos vem se desenvolvendo um grupo de pessoas que se encontrou pela internet. Cada um em um lugar diferente, distante dos outros, até em outros países. Essas pessoas conseguem por afinidade se ajudar e se apoiar nos momentos difíceis dos tratamentos que estão enfrentando ou já fizeram, superando a distância para se confortar, rir junto, chorar, ter esperança, se fortalecer.

Foi assim que eu conheci o Nelson. Eu acabara de passar por uma Laparotomia Exploratória na Fundação do Câncer aqui em Manaus que me diagnosticou um linfoma não-Hodgkin, de baixo grau, e estava meio desorientado, me sentindo muito só, sem chão.

Nelson é uma dessas pessoas independentes, positivas, seguras de si, que procuram encarar e resolver seus problemas de frente. Age como um de meus heróis prediletos de HQ, o Homem-Aranha, que vive praticamente sozinho, anda de ônibus, tem problemas de relacionamento, se trata pelo SUS, enfim, uma pessoa normal que tem todas as atribulações mundanas. E ainda tem a picardia para fazer piadinhas diante das situações mais difíceis, como quando apareceu desacompanhado para fazer uma biópsia de medula.

"Quando me chamaram para entrar na sala de preparação, perguntaram onde estava meu familiar e eu disse tá em casa, hehehe. Pois é, tive que ligar para minha mãe ir até lá, pois não poderia fazer aquela biopsia sem acompanhante. Chegando à sala de cirurgia olhei para a equipe e disse: ‘calibra na morfina que eu quero me esbaldar hehehe’- rapaz, tu sabe que aquilo dá um barato legal... Bah, fiquei que parecia estar flutuando, que coisa doida, hehehe".
A uma semana de sua formatura em Ciência da Computação, ainda sob o stress da conclusão do curso, ele não tinha muita certeza. Mas no dia 27 de setembro de 2008, quando Nelson Sonntag procurou o atendimento médico do SUS em Canoas, RS, com “perda de peso, sudorese noturna, muito cansaço e um tal caroço no pescoço”, tinha lá suas suposições nebulosas sobre as causas de tudo isso: ele já havia consultado o “oráculo”, como chama o Google.

Assim mesmo estava dividido: “o que são sintomas de uma doença e o que é paranóia?” Mas a tomografia não deixou margem para dúvidas: linfoma no mediastino, já com 14 cm. “Entrei em pânico. Na verdade foram as poucas vezes em que realmente fiquei sem chão”.

Daí em diante a sucessão de eventos que o envolvem - narrada com riqueza de detalhes por Nelson em seu blog, desde a 1ª postagem em 31 de dezembro de 2008, onde se alternam momentos de esperança, dúvidas, coragem, desapontamento, mas nunca desânimo, nem fraqueza - caracteriza a luta de um verdadeiro guerreiro pela vida.


Três internações, entre os dias 30.09 e 20.11 para controle e caracterização imunoistoquímica do tumor, duas citorreduções (mini-quimioterapia para reduzir o tumor), uma punção no peito e uma mediastinoscopia para coleta de amostra de material, pois até então, 60 dias após o diagnóstico inicial, ainda não se conseguira chegar a uma classificação do tipo de linfoma para se poder optar pelo protocolo quimioterápico mais adequado.

Iniciado o tratamento, depois de quatro ciclos de quimioterapia seguindo o protocolo CHOP, tratando um linfoma não – Hodgkin de células T periférico - um tipo bastante agressivo e raro que representa menos de 10% dos casos dentre os linfomas -, foi chamado pelos médicos e informado que teria que mudar para um protocolo mais agressivo, pois ocorrera um engano, o linfoma não era aquele, e sim um linfoma linfoblástico de células T. Além do atraso inicial no tratamento, mais essa, agora!

Além disso, ele que já havia conseguido voltar ao trabalho soube que o novo tratamento exigiria que ficasse internado por 17 dias a cada ciclo, num total de oito (!). Isso, infelizmente, adiaria também seu sonho de cursar o mestrado em Computação Aplicada na Unisinos, para o qual já havia conseguido a bolsa de estudos do CNPq.

Como o Homem-Aranha sempre faz, Nelson, o Gaúcho-guerreiro anda meio sumido, faz tempo que não posta, nem dá notícias. Com certeza está travando seu bom combate pela vida com o apoio de seus amigos, sua namorada e seu fiel gato escudeiro. Logo, logo reaparecerá como tem feito das últimas vezes. Talvez brincando, como na última vez em que sumiu e reapareceu em seu blog:

“Antes que alguém diga: - “bah, mas achei que tava até morto por que não postava mais..”- hehehehehehe, calma, galera, eu to legal, só tô numa correria doida resolvendo coisas pessoais mesmo, mas tudo indo na santa paz”.

Nelson, acabou a brincadeira. Não tem mais graça. A gente tá te esperando, cara!
Acompanhe a história de Nelson narrada em detalhes por ele mesmo em seu blog:
NELSON X LINFOMA NÃO-HODGKIN

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