sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

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O caso de José Alencar




Em 1997, Alencar descobriu que tinha câncer no rim direito e no estômago, após exames de rotina. Posteriormente, foram descobertos novos tumores na próstata, no abdômen e no intestino. Ele enfrentou com coragem e otimismo incontáveis sessões de quimioterapia e 15 longas cirurgias para extirpar tumores que teimam em retornar.
Ocorrência incomum

Em 2006, a saúde de Alencar sofreu novo revés e ele descobriu que padecede um sarcoma abdominal. Os sarcomas (do grego sarx = macio) são um grupo de tumores que ocorrem em tecidos de origem mesenquimal, como o conjuntivo – ossos, cartilagem e gordura –, ou nos músculos e vasos sanguíneos.
Os sarcomas acometem indivíduos de qualquer idade, porém a sua ocorrência é incomum, representando apenas cerca de 1% dos casos de câncer diagnosticados. A forma mais comum de sarcoma é conhecida como tumor estromal gastrointestinal e atinge cerca de 15 mil indivíduos por ano nos Estados Unidos, um número pequeno se comparado, por exemplo, com os mais de 200 mil novos casos de câncer de mama diagnosticados anualmente naquele país.
Alencar possui um lipossarcoma, um câncer de adipócitos que tipicamente apresenta nódulos formados por tumores satélites que se estendem como resultado de metástases surgidas a partir do sítio original ou primário. Esses nódulos são responsáveis pela maioria das lesões nesses pacientes.
O lipossarcoma é mais comum em indivíduos acima de 40 anos e causa perda de peso, dores e interferências funcionais sobre outros órgãos como rins e intestino. Anualmente são diagnosticados no planeta 2,5 casos desse tipo de tumor em cada milhão de habitantes.

Alimentando novos tumores
Um dos processos-chave para o desenvolvimento dos tumores secundários é a formação de novos vasos sanguíneos locais para a nutrição desses tumores. Desde que a importância dessa relação foi descoberta pelo médico norte-americano Judah Folkman (1933-2008), mecanismos que possam inibir esse processo têm sido estudados.
Um estudo com dois tipos de lipossarcomas realizado recentemente pela equipe de Folkman, da Universidade Harvard (EUA), com participação da pesquisadora brasileira Flavia Cassiola, e publicado no fim de dezembro de 2008 na revista científica Blood mostrou que as plaquetas sanguíneas estão envolvidas ativamente nesse processo.
Esses elementos sanguíneos transportam e liberam seletivamente os fatores que regulam a angiogênese, como o fator de crescimento vascular endotelial (VEGF, na sigla em inglês). A equipe de Folkman também observou que há um maior acúmulo de reguladores nas plaquetas de animais com tumores malignos.
Esses pesquisadores esperam que, no futuro, a avaliação dos níveis de fatores angiogênicos em plaquetas possa se tornar um meio prático para se diagnosticar, prever e mesmo tratar os lipossarcomas e outros tumores.

Atualmente, o tratamento tradicional desses tumores consiste normalmente na extirpação cirúrgica dos nódulos e tecido adjacente associada com sessões de quimioterapia. Contudo, esses procedimentos são pouco efetivos e mais da metade dos portadores de sarcomas morrem devido aos problemas decorrentes dessas patologias.

Tratamento experimental
Devido à pouca eficiência dos métodos terapêuticos tradicionais para combater o lipossarcoma, Alencar submeteu-se recentemente a um tratamento experimental no Centro Oncológico MD Anderson, um núcleo de excelência em pesquisas oncológicas localizado em Houston, nos Estados Unidos.

Alencar foi voluntário para estudos clínicos com um fármaco conhecido provisoriamente como R7112, que atua sobre o processo de multiplicação celular e em neoplasias. O R7112 regula seletivamente a interação entre Mdm2 e p53, duas proteínas associadas com a desregulação da proliferação, da diferenciação e da morte celular programada (apoptose) que ocorre nas neoplasias.

O gene p53 foi identificado em 1979 por Lionel Crawford, David Lane, Arnold Levine e Lloyd Old, que, na época, trabalhavam na Universidade de Princeton e no Instituto de Câncer de Nova Jersey, ambos nos Estados Unidos. A função de p53 foi demonstrada posteriormente por meio da reintrodução de uma versão funcional de p53 em células mutadas para esse gene. Esse processo causou a inibição de mitoses e da apoptose dessas células e, por outro lado, estimulou a diferenciação de algumas células tumorais, que, assim, perderam a sua capacidade proliferativa.
Pesquisas posteriores indicaram que as mutações no gene supressor tumoral p53 são encontradas em aproximadamente 50% de todos os tumores humanos. Elas ocorrem, por exemplo, em cerca de 40% dos tumores de mama, 50% dos tumores de pulmão e 70% dos tumores colorretais.
O exemplo de José Alencar, ainda que não possa redundar em benefícios próprios, será importante futuramente para todos, pois sua luta diária e sua perseverança frente às adversidades enfrentadas é um modelo a ser seguido por todos nós, brasileiros
Jerry Carvalho Borges
Universidade Federal do Vale do São Francisco (Univasf)
Leia aqui o material completo
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O vicepresidente da República, José Alencar, afirmou no último dia 11 que os médicos notaram uma redução de mais de 50% em seus tumores desde que ele reiniciou a quimioterapia em setembro. Lutando contra o câncer há anos, comemorou os resultados e disse que, se sua recuperação continuar neste ritmo, pode ser candidato a senador pelo seu partido nas próximas eleições, em outubro do ano que vem.
"O tratamento vem dando bons resultados, além naturalmente das orações e da corrente que se formou no Brasil a favor da minha saúde. Agradeço muito isso. Quando foi em outubro, fizemos exames de imagem, e o tumor havia regredido 30% de tamanho. Anteontem, foi feito um segundo exame, caiu mais 30%. Daqui a pouco vamos colocar o verbo no passado: 'Havia um câncer no José Alencar'", disse.




3 Comentários:

Anônimo disse...

Oi Daniel, quando vi tua página no orkut e a Thati comentando sobre teu blog, me interessei imediatamente, já que também sou blogueiro, ainda que agora esteja um pouco lento nas atualizações.
Mas não esperava que estivesses acometido de um câncer.
A primeira reação é lamentar. Mas estou impressionado (talvez não devesse por conhecer a tua capacidade intelectual) com a tua disposição para a luta contra e para o conhecimento da doença.
Isso é um excelente sinal de que você tem tudo para vencê-la.
Como tu sabes, meu pai e minha mãe se foram de câncer de estômago e mama. E nós, filhos, acabamos nos interessando por protocolos de medicamentos, tratamentos alternativos e tudo o mais que se apresentasse. Isso foi importante para termos um outro nível de relação com os médicos (surpreendentemente encontramos alguns que estavam sabendo bem menos que nós).
Tivemos um livro interessante que te sugiro: "A mente e o câncer", da Summus Editorial.
No mais, fica a minha torcida que possas sair dessa muito melhor do que entraste.
Um grande abraço.
Ah, meu blog é blogdomauroodealmeida.blogspot.com/

Benzion David disse...

Penso que a história de José Alencar carreia em si a digninidade e nobreza do bom combate, aditado aos avanços da medicina e biotecnologia. O resumo disso, pra mim, se traduz em alguma coisa análoga à "renovação da esperança".
Que ela esteja presente no dia-a-dia de todos nós.

Alfredo Moura Palha disse...

...e na idade dele! É de fato uma personalidade marcante e com certeza está ajudando muita gente a ter uma atiyude mais serena em relação ao câncer. Abc