terça-feira, 12 de abril de 2011

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Vacinas contra o câncer


Tenho insistido muito aqui sobre o tema das vacinas no combate ao câncer. Acho que esta linha de pesquisa está na direção certa, principalmente porque tem como fundamento a ativação dos nossos próprios recursos biológicos, ou seja, nosso sistema imunológico.
As chamadas vacinas idiotípicas  não são vacinas no sentido tradicional, que usam formas atenuadas de um vírus, etc. São tentativas de se usar o sistema imune do paciente de maneira que ele reconheça as células cancerosas como inimigas, e passe a ataca-las e destruí-las. É uma área onde se tem investido muito tempo e recursos em pesquisas, que tem causado muitas frustrações e poucos resultados, mas encorajadores.
Todavia, o fato de ter conseguido produzir resultados pode indicar que a direção geral está certa, mas o caminho ainda não.

A charge acima ilustra a revolta da população do Rio de Janeiro contra Oswaldo Cruz, o personagem de bigodes, ao centro, montado em uma seringa. Ele sugeriu ao governo, em 1904, que tornasse obrigatório o uso de uma vacina contra a varíola, causando uma verdadeira rebelião que tomou conta das ruas, e que ficou conhecida como A Revolta da Vacina.

Contudo, a vacina contra o câncer não é como desenvolver uma vacina contra um vírus como a poliomielite ou a varíola. Ou uma pílula que pode ser fabricada em massa. As células cancerosas parecem muito com as células normais, por isso é difícil fazer com que o organismo “pense” nelas como estrangeiras.

O Dana-Farber Cancer Institute é um dos muitos centros que vem trabalhando há algum tempo no desenvolvimento deste tipo de vacina. Os resultados obtidos estão entre os melhores, até agora, em ensaios clínicos com pacientes com cânceres muito avançados, que já haviam tentado de tudo e tinham pouco a perder. Três anos depois, trinta por cento deles estavam vivos, em contraposição aos 17% do grupo controle, que tomaram apenas um placebo. De qualquer maneira, se considerarmos a idade desses pacientes, alguns meses de vida a mais podem significar um percentual razoável do que teriam a viver, com ou sem doença.

Agora, no início do ano, Cientistas da University of North Carolina, nos Estados Unidos, descobriram que a ausência da função de uma proteína chamada NLRP3 pode resultar em um aumento de quatro vezes na resposta de um tumor a uma vacina terapêutica contra o câncer. Se a descoberta provar ser consistente, pode ser uma chave para tornar estas vacinas uma opção de tratamento real e eficaz.  

Por serem personalizadas, estas vacinas contra o câncer são difíceis de ser desenvolvidas. Em uma primeira fase do processo de produção, uma biópsia é feita  no paciente para a retirada de uma amostra das células cancerosas para que sejam enviadas ao laboratório onde serão processadas para a produção da vacina, que terá efeito terapêutico exclusivamente sobre o paciente em questão. Como resultado, as vacinas são caras, pois não são como um princípio ativo de uso genérico que possa ser produzido industrialmente, em massa.

Essas vacinas, chamadas idiotípicas, não curam nem são úteis na prevenção do câncer, mas elas aumentam a sobrevivência. Até agora em alguns meses ou até semanas. Mas, em seu conjunto, demonstraram que há uma proof of concept, uma demonstração de que é por aí.  

Os pesquisadores esperam que as descobertas, as conclusões do estudo e a contribuição de trabalhos futuros nesta área permitam o desenvolvimento de vacinas mais eficazes contra muitos tipos de câncer.

Vamos apostar nessa!

1 Comentário:

Fernanda disse...

Espero que o imediatismo das empresas não impeça as pesquisas.