segunda-feira, 11 de abril de 2011

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Rita Lee: "Prefiro ficar sem peitos a ficar paranoica”


Em setembro do ano passado a cantora e compositora deu esta entrevista cheia de bom humor e irreverencia a revista Istoé, da qual retirei alguns trechos que achei interessantes. Coerente e talentosa na sua deliciosa loucura, Rita, aos 62 anos é a artista brasileira que ao lado do já falecido cantor Raul Seixas melhor personifica o espírito debochado e libertário da cultura do Rock’n Roll do início dos anos 60.
“Eu mijava dentro dos sapatos das meninas na hora da educação física, ficava de tocaia no barzinho para enfiar nhá benta na cara de quem comprasse.”

M
ãe de 3 filhos, uma neta, mora com o companheiro (34 anos de namoro) há algum tempo em um sítio, cercada de vegetação, cuidando da horta e dos animais, aquela coisa “eu quero uma casa no campo”, onde deu a entrevista em que fala sem rodeios, como é de sua natureza, de assuntos como câncer de mama, velhice, relacionamento humano e morte.

Nesta ocasião ela ainda se recuperava de uma cirurgia de retirada dos seios, preventiva de câncer de mama, e declarou que decidiu simplesmente não reconstituí-los com próteses: “Não faz muita diferença. As minhas (mamas) já eram pequenas.” (!)

Como se preparou psicologicamente para remover um símbolo de feminilidade?Eu estava mesmo looouca para tomar anestesia (risos). Estava para fazer a cirurgia de mamas fazia tempo, mas com a agenda de shows apertada nunca dava para marcar. Acompanhei a saga da minha mãe com câncer e não quero nunca passar por aquilo. Minha ginecologista aconselhou a retirada das mamas, algo que não fez muita diferença, uma vez que as minhas já eram pequenas. Tive três filhos, dei de mamar, prefiro ficar sem peitos e tranquila a ficar com eles e paranoica.

Qual seu conceito de velhice?
A velhice tem um lado cruel, quando pensamos ainda ter 17 anos: toca o telefone, a gente pula do sofá, serelepe, para atender e as costas reclamam, o fígado xinga, as pernas não respondem...e o telefone tocando... Por outro lado me sinto menos burrinha do que quando era jovem.

Qual a diferença do seu relacionamento com o Roberto (marido) hoje e há 20 anos?
Vinte anos atrás Roberto e eu íamos para a estrada feito ciganos, com caminhões de som, luz, cenário... Ficávamos 15, 20 dias sem voltar para casa, as drogas rolavam soltas, os filhos estavam longe, matávamos a saudade trabalhando feito loucos. Hoje, o casal está na santa paz, fazemos um ou dois shows por mês, os meninos já saíram de casa, vivemos no mato felizes da vida. Nada piorou, não tenho a menor vontade de voltar no tempo.

Em turnê, dormem em quartos separados. E em casa?
Dormimos em quartos separados desde sempre. Não sobra espaço para o romance quando o casal divide tudo o tempo todo. Hay que tener mistérios, segredos... Não se trata de uma receita de bolo (para a relação durar). Tem a ver com cumplicidade no crime, respeito pela loucura do outro, sorte, capacidade para o autodeboche, saber pedir perdão e ter admiração mútua. 

Qual legado o presidente Lula deixará para o País?
Lula deixou a impressão para os gringos de que o Brasil hoje é um país sério. Mas fiquei desapontada com as bandidalhas que ele teimou em dizer que não sabia de nada. (mensalão e outros escândalos)

Do que sente saudade de sua juventude?
Da época do ginásio. Eu mijava dentro dos sapatos das meninas na hora da educação física, ficava de tocaia no barzinho para enfiar nhá benta na cara de quem comprasse. Tasquei fogo no cenário do teatro porque não me deram o papel de Julieta. Certa vez, fiquei em cima da árvore durante toda a manhã, igual àquele louco do Fellini que gritava “voglio una donna”... em vez de gritar eu lia um livro de Monteiro Lobato.

Tem medo da morte?
Penso na morte como o grande gozo da vida. Gosto de velórios, mas tenho pavor de enterros. Sou a favor da eutanásia se estiver naquela situação vegetal/terminal.

Tem alguma religiosidade?
Apesar de não acreditar em vida após a morte, às vezes me pego pedindo proteção aos antepassados e aos descendentes que ainda não nasceram. Tenho coleção de santinhos de todas as religiões, sou uma iconoclasta ateia.

Você mente? 
Minto bem pra caramba! Faço o papel de cantora há 45 anos e até hoje ninguém duvida, pelo menos na minha frente.

Qual sonho de consumo realizou?
Na época do “Lança Perfume” ganhei muita grana, mas, como já disse, fumei, bebi e cheirei tudo. Faz quatro anos que moro no mato cercada de verde e bichos: este foi meu sonho de consumo.

Qual a maior burrada que cometeu?
Ter participado do primeiro Rock in Rio (1985) foi a minha maior burrada. Primeiro porque os brasileiros foram tratados feito lixo. Os gringos receberam os melhores horários de ensaios e apresentações. Segundo porque minha guitarra Telecaster vintage foi roubada. E terceiro porque eu poderia ter cobrado um cachê maior e marquei mó touca!

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