sábado, 12 de março de 2011

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Pesquisador critica postura das multinacionais da indústria farmacêutica na pesquisa da cura do câncer

O geneticista Garth Anderson, do Roswell Park Cancer Institute, tem uma teoria do porquê de os medicamentos contra o câncer terem uma eficiência tão inconsistente. E se sua teoria estiver certa, porá em causa toda a premissa por trás dos grandes laboratórios farmacêuticos de ponta para testar drogas-alvo contra o câncer de tumores comuns, como o câncer de cólon, câncer de mama e câncer de pulmão. Ele insinua que os investidores, em vez de despejarem dinheiro no desenvolvimento de novas drogas contra o câncer, deveriam preferir colocar suas apostas em empresas que desenvolvam uma melhor imagem do tumor e técnicas de cirurgia minimamente invasivas, que poderiam ter um impacto e um retorno maiores.

A
 Pfizer, a Roche, a Gleevec, a AstraZeneca, a Novartis  e outras companhias farmacêuticas multinacionais vem investindo polpudos recursos de seus acionistas em novos medicamentos para combater o câncer, mas os resultados têm sido medíocres. A droga mais promissora da Pfizer em ensaios clínicos, por exemplo, consegue de fato ajudar apenas 5% dos pacientes com câncer de pulmão, com mutação específica de tumor. A maioria dos novos medicamentos contra o câncer não consegue impedir um lento progresso da doença, depois de poucos meses.

A teoria por trás das drogas-alvo contra o câncer é simples: encontrar as mutações-chave do gene que impulsionam o crescimento dos tumores e, em seguida, elaborar medicamentos que bloqueiem as proteínas mutantes. Esta teoria levou à descoberta de drogas como o Gleevec, da Novartis, para leucemia mielóide crônica e do Herceptin, da Roche, para certos tipos de câncer de mama.

A falha nesta lógica, diz Anderson, é que é comum que os tumores simplesmente não tenham algumas mutações-chave que seriam o alvo das novas drogas desenvolvidas. Eles podem ter tanto dano genético que pode ser impossível destruí-los com segurança usando drogas que atinjam simplesmente um ou dois genes ruins. O problema é algo chamado instabilidade genômica. Essencialmente, isso significa que os tumores são loucamente mutantes.

A maioria dos tumores comuns têm inúmeras mutações genéticas impulsionando o seu crescimento, e estas mutações estão mudando o tempo todo. Um estudo feito em 1999 encontrou 11 mil alterações genéticas em tumores do cólon, indicando extensivos danos ao DNA. Pior ainda: dentro de um único tumor grande, células diferentes podem ter diferentes mutações genéticas impulsionando o seu crescimento, diz Anderson. Uma droga que atinja uma das mutações pode encolher parte do tumor, no início, mas está fadada ao fracasso a longo prazo, pois o restante do tumor vai preencher a lacuna. "É como pisar em uma água-viva: você pode bater em parte dela, mas ela esguicha sua toxina em outro lugar", diz ele.

Anderson vem trabalhando sobre a genética do câncer desde 1971, quando a idéia de genes causadores de câncer era nova e hoje é mais otimista em relação às drogas que alvejam o suprimento sanguíneo do tumor (antiangiogênicas), como o Revlimid, da Celgene, as quais não estão sujeitas aos problemas derivados do desenvolvimento de resistência como as drogas específicas, desenvolvidas para atingirem diretamente os tumores. A segmentação de genes ruins funcionará em muitos canceres menos comuns, como a leucemia crónica, que não têm defeitos genéticos maciços e são controlados por apenas algumas alterações genéticas. Drogas que estimulam e orientam o sistema imunológico contra o câncer, como o Ipilimumab, droga da Bristol-Myers Squibb contra o melanoma, também poderiam contornar o problema de muitas malformações genéticas.

Mas ele ainda acha que muito mais atenção precisa ser deslocada para o desenvolvimento de melhores métodos de cirurgia que permitirão com que os cirurgiões operem cada vez mais pacientes. "A cirurgia tem sido muito negligenciada. Se você operar o paciente a tempo, você pode curá-lo. Ela é bruta, mas eficaz". A tecnologia que impulsionaria o número de casos operáveis se traduziria diretamente em maiores taxas de cura.

Então por que é que as empresas farmacêuticas continuam a despejar tanto dinheiro em pesquisas e testes de medicamentos contra o câncer, se as chances são tão magras? Há os avanços ocasionais como o do Gleevec, da Novartis, que se estendem por anos de sobrevida. Mas a verdadeira razão é que com os preços nas alturas e com os médicos e os pacientes desesperados, significa que mesmo uma droga que mal funciona, às vezes pode fazer um pacote.

1 Comentário:

Paes Leme disse...

Olá Daniel.
Tenho acompanhado o blog assíduamente e com o maior interesse, principalmente quando vc passou a postar estas traduções de pesquisas de ponta em oncologia, tão oportunas para quem vivencia o problema direta ou indiretamente.
Partucular interesse me despertou esta matéria, que mostra de forma alentadora que nem todos os pesquisadores envolvidos na busca de uma solução final para o problema do câncer resumem-se a meros executores das políticas quase sempre mercantilistas praticadas pelos grandes grupos empresariais da Indústria farmaceutica, onde a distribuição de dividendos aos acionistas está em primeiro lugar.
Ele não só critica, mas mostra também alternativas e caminhos, muitas vezes óbvios mas obscurecidos por interesses mediatos de lucro e de resultados unilaterais, quase sempre pro lado deles.
Eu me congratulo com você pela sensibilidade de dar mais visibilidade a este tipo de coisa.
Um abraço e continue na batalha, nos esaremos, sempre que possível, por aqui.