terça-feira, 27 de outubro de 2009

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Anibal Beça x Paes Loureiro


Com certeza o bairrismo, último reduto do medíocre, é um tipo de cancro que só se desenvolve em meio à ignorância e à pobreza de espírito, e delas se nutre.

Há alguns anos o poeta J. J. Paes Loureiro, paraense do município de Abatetuta, preparava-se em Belém, onde reside, para uma permanência de dois dias em Manaus, acompanhando a esposa, Violeta, que participaria de uma banca de doutoramento na Universidade do Estado do Amazonas. E envia e-mail ao velho amigo, o poeta amazonense Anibal Beça, avisando-o de sua chegada.



LICENÇA POÉTICA
(J. J. Paes Loureiro)

“A bênção, poeta Beça
que amigo à beça tu és.
Leva teu barco sem pressa
na crista dessas marés.
Pois Beça contém um B
e não PR de pressa.
Ouvindo-se o som se vê:
melhor que pressa é ter Beça.
O Thiago já me disse
e o Totonho confirmou:
foi leite de lua cheia
que de poesia te engordou!
Preciso de tua licença
poética pra ficar
muito à beça aqui em Manaus,
com teu visto consular.
Manda-me um verso depressa,
faz uma trova voar
e não me venhas com essa,
que estás de pernas pro ar…


E o poeta amazonense responde ao amigo:

ENCONTRO DE ÁGUAS
(Anibal Bessa)
(em resposta às redondilhas do irmão Jota Jota)

Poeta de muitas águas
já respondo bem ligeiro:
na piscina me encontrava
quando te li Paes Loureiro.
Amigo e querido poeta
minha alegria é sem par
licença tu não precisas
nem de visto consular.
Mas já estendo o tapete
tupé trançado de palha
o meu abraço é caboclo
e já estendo a toalha.
Se me leres poderei
convidar-te ao caviar
que aqui é de tambaqui
com pupunha e patauá.
Bem sabes que sou gourmet
atestado por Totonho
e o Thiago suburucu
de paladar tão bisonho.
Pois então por que a espera?
Venha rápido e depressa
tenho muitas figurinhas
para nós rirmos à beça.

O poeta, compositor, jornalista, tradutor, teatrólogo amazonense Anibal Beça faleceu no dia 25 de agosto passado, quando esse blog ainda não existia. Recebeu do poeta Mario Quintana os primeiros ensinamentos e o estímulo para caminhar pelas veredas da poesia. O Cenário Cultural Amazonense perde um de seus maiores artistas populares.

2 Comentários:

Denise disse...

Mais uma vez me emociono ao ler o Linfoma, L'infame; na verdade, li as postagens, encaminhadas pela Thati ao meu email, sobre o Daniel (zinho) e agora, Aníbal.
Da primeira (Dyá, Sayonara...), acima de qualquer suspeita, as palavras cairam divinamente dentro de cada espaço deixado pela saudade.
De saudade, diferente da anterior, a postagem sobre o querido amigo poeta, que tanto me ensinou de poesia, também me emocoinou.
É confortante saber desse espaço, cheio de palavras que contemplam sentimentos tão benéficos. Sabe aquela coisa que faz bem à alma?
Deixo meu comentário como um sorriso que faz bem ao coração.

daniel disse...

Obrigado!! Saiba que é muito bem vinda, Denise. Eu me sinto gratificado por suas palavras generosas. Reencontrar amigos sempre faz bem à alma.Bjão