quinta-feira, 15 de outubro de 2009
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Em janeiro de 2006 eu estava com um caroço em cima do seio direito, mais ou menos do tamanho de uma azeitona. Não dei muita atenção, e em um fim de semana sai com uns amigos, e senti uma forte dor que se estendia para o meu braço direito. A dor não passava, então resolvi ir ao hospital do convênio com a minha cunhada.
O médico da emergência nem me examinou direito, só passou um analgésico e me mandou procurar um mastologista. O mastologista disse que estava tudo normal com meus seios, e que eu deveria procurar um traumatologista. Ao ser examinada pelo traumatologista, ele disse que não era nada de grave, que achava se tratar de um calo ósseo. Mesmo assim, o traumatologista pediu um raio-x e um ultra-som.
Como ele falou que era um calo ósseo, eu não dei muita atenção. Passou o mês de janeiro, fevereiro, e quando me olhei novamente no espelho, o caroço, que era do tamanho de uma azeitona, estava mais ou menos do tamanho de um caroço de abacate. Eu peguei a requisição do médico e fui urgente fazer os exames pedidos. Ao sair o resultado, o médico estava sem vaga para mim, então eu procurei um outro traumatologista. Em 10 de fevereiro o traumatologista me examinou e ficou assustado com o que via. Na mesma hora o médico ligou para um amigo dele cirurgião torácico e me encaminhou para ele.
Eu fui ao outro médico que tornou a me examinar e a me fazer milhares de perguntas. Por sorte do destino esse médico era amigo do meu pai, que é médico também, e no dia seguinte, sábado, marcou uma tomografia às 7 horas da manhã em um hospital aqui de Belém, e pediu para que meu pai viesse. Nossa, minha cabeça começou a pensar mil coisas.
No dia seguinte, sábado, estávamos lá papai, mamãe e eu. Entrei na sala e depois de alguns minutos vi meu pai balançando a cabeça com um sinal de negativo, então as lágrimas em meu rosto não conseguiram mais parar de sair. Quando terminei o exame ninguém quis me falar nada, e uma biópsia foi marcada para segunda-feira, dia 13 de fevereiro. Na segunda-feira, enquanto estava esperando o leito ser liberado pelo plano, dormi no carro e escutei o meu pai conversando com um outro amigo dele, e o ouvi dizer: “O dr. falou que a minha filha tinha uma massa suspeita”.
Meu Deus, o meu mundo tinha acabado. Fui atrás da mamãe e segurava bem forte na mão dela e dizia: “Mãe eu não quero morrer, não me deixa morrer, por favor”. Depois de um tempo estava mais calma, e fui para o quarto do hospital esperar para ser chamada para a cirurgia.
Nesse espera-espera o meu pai falou com o anestesista e com um cirurgião para perguntar o que eles achavam. Um falou que eu já tinha metástase e outro me deu cinco anos de vida. Meu pai ficou doido, e disse que ninguém ia tocar na filha dele, já que eu ia morrer.
Quando nós achávamos que nada mais poderia ser feito, Deus, como sempre nos surpreendendo, mandou um anjo que nos guiar para o caminho certo. Minha prima de Macapá, que é hematologista, ligou para conversar com meu pai. Com muita lábia ela conseguiu mudar a cabeça do meu pai e da minha mãe ao dizer que não era o que eles estavam pensando, que tinha cura. Na mesma hora ela ligou para um amigo em São Paulo e disse o que estava acontecendo, e ele já reservou um leito que conseguiu no Hospital Brigadeiro.
Antes de ir embora recebi um presente do meu tio, a imagem de Santa Rita de Cássia, a qual eu nunca mais me saparei. Fui embora da minha cidade com a incerteza se um dia eu voltaria para ver minha família, namorado e amigos.
Ao chegar a São Paulo fui muito bem recebida pelos médicos do Hospital Brigadeiro, e em sete dias que estava na cidade consegui uma vaga no Hospital das Clinicas, onde eu fui operada para realizar a biópsia. Depois de uma semana veio o resultado. O dr. Fausto ligou para o meu pai e contou que eu tinha linfoma não-Hodgkin de células B grandes.
Na hora ficamos arrasados, mas depois de muita conversa com o dr. Fausto levantamos a cabeça e fomos na igreja perto de casa em São Paulo, que por coincidência tem a imagem de Nossa senhora de Nazaré, e agradecemos a Deus por eu ter uma doença que tinha cura.
Em 9 de março começou minha guerra contra essa doença maldita. Fiz seis aplicações de quimioterapia (CHOP + MARBHTERA) de 21 em 21 dias. Após dez dias da minha primeira quimioterapia meu cabelo já começou a cair. Se eu falar que isso não me deixou mal eu estarei mentindo, fiquei muito triste, mas resolvi levantar a cabeça e tentar encarar com cabeça erguida, e assim foi.
Depois da terceira aplicação de quimioterapia fiz uma nova tomografia e o resultado foi inédito: 99% do tumor havia sumido. Eu fiz as outras quimioterapias restantes e novamente uma nova tomografia foi realizada, e agora o melhor de tudo: o tumor tinha sumido todo.
Eu estava novamente limpa. Os cinco anos de vida que tinham me dado se tornaram cinco de tratamento, e hoje, em setembro de 2006, eu estou ótima e vivendo a minha vida novamente.
Estou escrevendo este testemunho na minha cidade, rodeada pelos amigos, familiares e o meu namorado que segurou a minha mão e não largou mais. O meu cabelo está crescendo, e ainda vou fazer vinte aplicações de radioterapia, mas por precaução.
Aprendi que nunca devemos nos deixar abater por qualquer doença, por mais agressiva que ela seja. Também aprendi a dar valor nas coisas mais simples da vida, que antes eram coisas imperceptíveis para mim. Somente diante de grandes dificuldades, quando pensamos que não podemos mais seguir em frente, é quando encontramos forças para superar todos os males que vieram e que virão. E isso mostra o que há de melhor em nós: a força de superar a tudo e a todos.
Aprendi também que não vale a pena pensar no que não tenho e no que gostaria de ter, mas em como posso ser feliz com o que possuo. O maior bem que possuo é a minha própria vida que recebi de volta.
Não poderia deixar de agradecer aos meus pais que estavam comigo a cada exame, a cada resultado recebido, e a cada aplicação de quimioterapia, e por terem acreditado que eu ia conseguir vencer mais uma. Agradeço as mensagens, as cartas e os telefonemas que recebi durante esse período de minha vida, a meus amigos que rezavam por mim, e a Santa Rita por te intercedido por mim a todo instante.
Depoimento escrito por Kaynara Machado Campos, paciente de linfoma não-Hodgkin.
Final feliz
Em janeiro de 2006 eu estava com um caroço em cima do seio direito, mais ou menos do tamanho de uma azeitona. Não dei muita atenção, e em um fim de semana sai com uns amigos, e senti uma forte dor que se estendia para o meu braço direito. A dor não passava, então resolvi ir ao hospital do convênio com a minha cunhada.
O médico da emergência nem me examinou direito, só passou um analgésico e me mandou procurar um mastologista. O mastologista disse que estava tudo normal com meus seios, e que eu deveria procurar um traumatologista. Ao ser examinada pelo traumatologista, ele disse que não era nada de grave, que achava se tratar de um calo ósseo. Mesmo assim, o traumatologista pediu um raio-x e um ultra-som.
Como ele falou que era um calo ósseo, eu não dei muita atenção. Passou o mês de janeiro, fevereiro, e quando me olhei novamente no espelho, o caroço, que era do tamanho de uma azeitona, estava mais ou menos do tamanho de um caroço de abacate. Eu peguei a requisição do médico e fui urgente fazer os exames pedidos. Ao sair o resultado, o médico estava sem vaga para mim, então eu procurei um outro traumatologista. Em 10 de fevereiro o traumatologista me examinou e ficou assustado com o que via. Na mesma hora o médico ligou para um amigo dele cirurgião torácico e me encaminhou para ele.
Eu fui ao outro médico que tornou a me examinar e a me fazer milhares de perguntas. Por sorte do destino esse médico era amigo do meu pai, que é médico também, e no dia seguinte, sábado, marcou uma tomografia às 7 horas da manhã em um hospital aqui de Belém, e pediu para que meu pai viesse. Nossa, minha cabeça começou a pensar mil coisas.
No dia seguinte, sábado, estávamos lá papai, mamãe e eu. Entrei na sala e depois de alguns minutos vi meu pai balançando a cabeça com um sinal de negativo, então as lágrimas em meu rosto não conseguiram mais parar de sair. Quando terminei o exame ninguém quis me falar nada, e uma biópsia foi marcada para segunda-feira, dia 13 de fevereiro. Na segunda-feira, enquanto estava esperando o leito ser liberado pelo plano, dormi no carro e escutei o meu pai conversando com um outro amigo dele, e o ouvi dizer: “O dr. falou que a minha filha tinha uma massa suspeita”.
Meu Deus, o meu mundo tinha acabado. Fui atrás da mamãe e segurava bem forte na mão dela e dizia: “Mãe eu não quero morrer, não me deixa morrer, por favor”. Depois de um tempo estava mais calma, e fui para o quarto do hospital esperar para ser chamada para a cirurgia.
Nesse espera-espera o meu pai falou com o anestesista e com um cirurgião para perguntar o que eles achavam. Um falou que eu já tinha metástase e outro me deu cinco anos de vida. Meu pai ficou doido, e disse que ninguém ia tocar na filha dele, já que eu ia morrer.
Quando nós achávamos que nada mais poderia ser feito, Deus, como sempre nos surpreendendo, mandou um anjo que nos guiar para o caminho certo. Minha prima de Macapá, que é hematologista, ligou para conversar com meu pai. Com muita lábia ela conseguiu mudar a cabeça do meu pai e da minha mãe ao dizer que não era o que eles estavam pensando, que tinha cura. Na mesma hora ela ligou para um amigo em São Paulo e disse o que estava acontecendo, e ele já reservou um leito que conseguiu no Hospital Brigadeiro.
Antes de ir embora recebi um presente do meu tio, a imagem de Santa Rita de Cássia, a qual eu nunca mais me saparei. Fui embora da minha cidade com a incerteza se um dia eu voltaria para ver minha família, namorado e amigos.
Ao chegar a São Paulo fui muito bem recebida pelos médicos do Hospital Brigadeiro, e em sete dias que estava na cidade consegui uma vaga no Hospital das Clinicas, onde eu fui operada para realizar a biópsia. Depois de uma semana veio o resultado. O dr. Fausto ligou para o meu pai e contou que eu tinha linfoma não-Hodgkin de células B grandes.
Na hora ficamos arrasados, mas depois de muita conversa com o dr. Fausto levantamos a cabeça e fomos na igreja perto de casa em São Paulo, que por coincidência tem a imagem de Nossa senhora de Nazaré, e agradecemos a Deus por eu ter uma doença que tinha cura.
Em 9 de março começou minha guerra contra essa doença maldita. Fiz seis aplicações de quimioterapia (CHOP + MARBHTERA) de 21 em 21 dias. Após dez dias da minha primeira quimioterapia meu cabelo já começou a cair. Se eu falar que isso não me deixou mal eu estarei mentindo, fiquei muito triste, mas resolvi levantar a cabeça e tentar encarar com cabeça erguida, e assim foi.
Depois da terceira aplicação de quimioterapia fiz uma nova tomografia e o resultado foi inédito: 99% do tumor havia sumido. Eu fiz as outras quimioterapias restantes e novamente uma nova tomografia foi realizada, e agora o melhor de tudo: o tumor tinha sumido todo.
Eu estava novamente limpa. Os cinco anos de vida que tinham me dado se tornaram cinco de tratamento, e hoje, em setembro de 2006, eu estou ótima e vivendo a minha vida novamente.
Estou escrevendo este testemunho na minha cidade, rodeada pelos amigos, familiares e o meu namorado que segurou a minha mão e não largou mais. O meu cabelo está crescendo, e ainda vou fazer vinte aplicações de radioterapia, mas por precaução.
Aprendi que nunca devemos nos deixar abater por qualquer doença, por mais agressiva que ela seja. Também aprendi a dar valor nas coisas mais simples da vida, que antes eram coisas imperceptíveis para mim. Somente diante de grandes dificuldades, quando pensamos que não podemos mais seguir em frente, é quando encontramos forças para superar todos os males que vieram e que virão. E isso mostra o que há de melhor em nós: a força de superar a tudo e a todos.
Aprendi também que não vale a pena pensar no que não tenho e no que gostaria de ter, mas em como posso ser feliz com o que possuo. O maior bem que possuo é a minha própria vida que recebi de volta.
Não poderia deixar de agradecer aos meus pais que estavam comigo a cada exame, a cada resultado recebido, e a cada aplicação de quimioterapia, e por terem acreditado que eu ia conseguir vencer mais uma. Agradeço as mensagens, as cartas e os telefonemas que recebi durante esse período de minha vida, a meus amigos que rezavam por mim, e a Santa Rita por te intercedido por mim a todo instante.
Depoimento escrito por Kaynara Machado Campos, paciente de linfoma não-Hodgkin.
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1 Comentário:
Foi um periodo muito dificil pra todos nos mas que com a ajuda de DEUS conseguimos superar e hoje somos muito mais unidos em Cristo.Parabens pelo seu trabalho e conte com a gente.
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