terça-feira, 13 de outubro de 2009

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Datas, fatos esparsos e ultrassonografia

Nunca fui muito bom com as datas, com o TEMPO como unidade de medida a circunstanciar, marcar os eventos na minha vida. As mulheres me parecem bem mais aptas.

O meu aparelho digestivo também nunca foi dos melhores. Nesses últimos 40 anos perdi a conta dos episódios de azia, má digestão, prisão de ventre e tudo quanto é tipo de mazela gastrointestinal que se possa imaginar.

Para se ter uma idéia, no ano de 2007, morando só em uma pequena kitnet, tive uma crise de diarreia tão persistente que durava praticamente o dia todo e se prolongou por cerca de um mês. Amigos,acreditem,eu tava sumindo...

Restringi ainda mais minha dieta, sobre a qual exercia um controle rigoroso e
comecei a tomar soro reidratante. Em dois dias as coisas voltaram ao normal, ou algo parecido. Não me lembro se então já vinha tendo as febrícolas e os suores noturnos abundantes que Sandra foi a primeira a perceber e estranhar.Provavelmente, sim. Mas as manchas vermelhas, sanguíneas nas palmas das mãos já estavam lá.

Mas...por que não consultar um médico? Bem, eis outro problema que sempre tive.

Não fui a um gastro mas cheguei a consultar um dermatologista. Ele me passou um creme pra passar antes de dormir, nas mãos. É claro que, sendo algo de natureza sistêmica, como depois descobri, as manchas não sumiram.

Recentemente, o Google me deu a resposta: isso é sintoma de linfoma. E isso mostra o quanto os nossos médicos ainda estão despreparados pra enfrentar esse tipo de problema.Os especialistas se esquecem da importância de trabalhar nas interfácies entre sua especialidade e as demais, desconsiderando o aspécto holístico e integral do corpo humano, do ser humano,a interdependência entre os vários órgãos e sistemas.

Mas esse é um assunto que pode render muito, e podemos explorá-lo depois.

Bem,em meados de julho, diante de um quadro persistente e continuado de leves cólicas abdominais, a contragosto concordei com Sandra em fazer uma ultra do abdomen.

Saímos no início da tarde.Pra começar, o cartão do meu plano de saude não passou no sistema do laboratório. Fomos até o escritório da Unimed, onde fiquei sabendo que ele estava cancelado há pouco mais de um mês, e que, portanto, eu havia perdido o prazo para reativá-lo sem ter que passar por um período de carência de três mêses.Prefiro omitir os detalhes envolvidos nisso tudo.

A verdade é que eu sou tão nulo que consegui ficar sem plano de saúde, mesmo tendo dois convênios à minha disposição pelo órgão em que trabalho, GEAP-Saúde e Unimed.

Eu já queria aproveitar pra recuar mas Sandra não desiste facil:-Vamos fazer particular, então!

Queria que vocês vissem a cara de susto do médico diante da massa que se apresentava no seu monitor. Visivelmente assustado, me encaminhou direto pra tomografia.Certamente queria mais certeza sobre o seu "achado" e dividir com mais alguém a responsabilidade de redigir um laudo que se configurava tão adverso.Chegou mesmo a dizer à Sandra que se tratava de um "câncer de cauda", de pâncreas.Imaginem o terror que isso não deve ter lhe causado.

Deitado no tomógrafo perdi a noção do tempo em que os médicos ficaram confabulando diante das imagens que viam.Depois de uma eternidade um deles veio me ajudar a levantar do aparelho, muito formal e me olhando da maneira mais estranha que um estranho jamais havia me olhado.
Eu nem sentia mais o chão, tava meio tonto, com a boca seca e sem força nas mãos. Uma solidão absoluta. Pra complicar não sabia onde Sandra estava.Acho que deve ter ido chorar longe pra não me deixar perceber.
Ao passar por mim no corredor onde me deixaram aguardando,o ultrssonografista olhou pro outro lado, evitando o meu olhar.

Então eu pensei que dessa vez a coisa tava mesmo preta.

1 Comentário:

Anônimo disse...

comigo foi muito parecido.Eles tem tanto medo de dar a notícia quanto as pessoas tem de te-la.Eu entrei em remissão completa em setembro/2008 e continuo fazendo monitoramento.Boa sorte pra vc.