sexta-feira, 24 de junho de 2011

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Depoimento: Herson Capri fala sobre o câncer à revista Istoé

“cigarro faz mal e é um dos causadores do câncer sim, inclusive do meu.”

Por Rosângela Honor

Para os que não tiveram a oportunidade de ler esta excelente entrevista publicada há alguns dias na revista Istoé, posto aqui esse depoimento de alguém que superou um dos cânceres mais letais e segue a vida normalmente. Aos 48 anos, o curitibano Herson Capri vem redescobrindo o prazer de viver desde que domou um câncer no pulmão esquerdo há um ano e oito meses.

O que mudou depois do câncer?
Comecei a cultivar a vida com mais leveza, a desprezar problemas menores que se faziam grandes na minha cabeça, aumentou a alegria de viver. Em alguns momentos, paro e digo: “Estou vivo! Que bom!”. Não morri por um triz. Câncer no pulmão é complicado, mata em 90% das vezes. Só é curável quando detectado antes de qualquer sintoma. Foi a minha sorte.

Como descobriu?
Por acaso. Ia encenar Jesus Cristo no espetáculo Paixão de Cristo, em Nova Jerusalém. Estava meio gordinho e resolvi fazer uma lipoaspiração. Quando fui fazer os exames preparatórios, detectaram um nódulo no pulmão esquerdo e depois fui operado. Tive muita sorte, acho que houve um empurrãozinho da mão de Deus.

Você acredita que houve alguma relação?
Esta relação com Jesus Cristo é uma coisa que, sem nenhuma pieguice, mexeu comigo. Já me disseram que é uma babaquice dizer que foi Jesus quem me salvou. Respondi que babaquice era da pessoa. Fui salvo por Jesus, literalmente. Fui fazer Jesus Cristo, quis ficar magro igual a ele e isso acabou salvando minha vida.Como não fazer essa associação imediata?

O que mudou na sua crença?
Tive uma formação religiosa muito contraditória. Meu pai era ateu, militante do Partido Comunista, foi preso várias vezes. Mas estudei alguns anos em colégio interno e religião era algo obrigatório. Aos 5 anos, todos os dias, às seis da manhã, lá estava eu ajoelhadinho rezando. Esta contradição sempre me perseguiu. Da infância à adolescência, oscilei entre uma religiosidade muito minha, até escondida, e um discurso ateu. Comecei a admitir que rezava sim, a falar de fé e a agradecer. E isto se acentuou depois que me salvei do câncer.

Mesmo operado você se manteve no espetáculo. Por quê?
É, tinha só 25 dias de operado. Antes de cada apresentação, rezava para agradecer. Eram momentos muito emotivos porque ainda estava cicatrizando. Ainda hoje é assim, tenho um contato com Deus muito particular, mas não freqüento igrejas.

Qual foi sua reação ao descobrir o câncer?
Quando me deparo com uma dificuldade muito grande, costumo ser racional. Na minha ignorância pensei: “É um câncer, vou morrer e preciso saber quanto tempo tenho, o que posso fazer”. Pensava: “Vou enlouquecer, vou viajar e conhecer o mundo ou vou me drogar, o que vou fazer?

Como se comportou em relação à sua família?
Percebi a dificuldade das pessoas de assimilar, principalmente a Susana, que é médica e trabalha com diagnóstico de câncer em ultra-sonografia. Pensava também na possibilidade de deixar o Lucas sem pai.

Teve medo de morrer?
Como ator, interpretei vários personagens que morreram. Isso é muito louco porque, de alguma forma, eu estava amadurecido em relação à morte. Não fiquei em pânico, foi uma coisa madura. Tive medo, mas não me isolei das pessoas.

Você sabia da gravidade de seu quadro clínico?
Não sabia das estatísticas e de todas as possibilidades que envolvem câncer de pulmão. Sabia que o tumor estava próximo da pleura, mas não sabia que, se ele colasse na pleura, a sobrevida era pequena. Sabia o que precisava saber, talvez até por fuga.
E como convive com a possibilidade da reincidência do câncer?
Faço exames periódicos e em cada uma das vezes existe a expectativa de pintar um novo tumor em algum outro lugar ou não. Os dois primeiros anos são decisivos, cruciais. Fui operado há um ano e oito meses.

Você fumou durante 30 anos. Acredita que o cigarro foi um dos causadores do tumor?
Com certeza. O cigarro contribuiu e a natação compensou um pouco. Tentava parar, mas não conseguia. Parava e depois voltava. Era uma briga com a consciência, sabia que fazia mal, que precisava parar, mas achava gostoso. Parei três vezes, numa delas fiquei sem fumar três anos.

Você fez comercial de cigarro?
Fiz. Não sinto culpa, nem arrependimento. Existe uma discussão muito grande em torno do cigarro. O que posso dizer hoje é que cigarro faz mal e é um dos causadores do câncer sim, inclusive do meu.

Como você reage diante de um fumante?
Não sou ex-fumante chato. Só falo no assunto quando sou perguntado. Quando um fumante fala que não consegue parar, digo que é uma questão de força de vontade e aconselho a fazer uma chapa de pulmão de vez em quando. Mas sempre com leveza. Quando fumam do meu lado, me afasto porque me dá alergia. Agora tenho um pulmão diferenciado, especial.

Você leva uma vida normal?
Faço tudo. Eu me exercito na esteira durante 40 minutos e às vezes nado. Isso quando tenho paciência porque não sou religioso em nada. Eu me alimento bem, mas irregularmente, como sempre foi. Meu sono e minha alimentação têm um lado desregrado. Durmo tarde e acordo tarde.

Além do cigarro, você usou outro tipo de droga?
Usei maconha um tempo, com alguns intervalos. Usava de forma racional. Nunca para trabalhar. O trabalho de ator é delicado e a maconha dispersa muito. Usava à noite, em casa. Fazia uma coisa equilibrada, se é que se pode dizer isso de uma droga.

Leia a entrevista completa aqui

3 Comentários:

Edson Leite disse...

Bom saber desse tipo de realidade. Depoimentos de histórias de superação e de vitória, espero que ele tem se tornado realmente uma pessoa bem melhor e que possa continuar trilhando no sucesso profissional e na vida pessoal.
Abraços,

Anitha disse...

Meu querido, acabei de chegar de viagem, e que surpresa!!! De deixar o coração em festa!
Seu comentário no meu blog...Que que é aquilo, Menino? Quanta gentileza para uma pobre marquesa...
De qualquer forma, adooooooorei!!! Ah! É justo que se faça uma ressalva aqui e agora, a poesia está toda ela nos seus olhos e no seu coração diferenciado...
Obrigada por tudo!!!
Beijos

Marcia Lucas disse...

Tive uma experiência parecida sabia que meu seio doía além do normal ,mas só fui atrás quando vi minha irmã sofrendo com câncer de ovário o meu era de mama, foi muito difícil parecia estar fora do meu corpo,como se de repente não pertencia mais ao meu mundo.Até agora não consegui voltar para ele...