Os transtornos físicos e
psicológicos induzidos pela ocorrência do câncer na vida das pessoas assumem,
na maioria dos casos, contornos dramáticos na vida sexual do enfermo e de seu
parceiro. Muitas das vezes, sem auxílio, sem o diálogo franco, relações são desfeitas e a solidão
agrava ainda mais o quadro. A maioria destes problemas podem ser passageiros e
provocados pela químio e radioterapia, podendo ser superados ao longo do
tratamento. Texto de Luciana Parisotto
O surgimento de algum tipo de câncer na vida
de uma pessoa é muito traumático, dadas às conseqüências físicas e emocionais
desse tipo de doença e as limitações da medicina nesse campo ainda muito
desconhecido.
Existem dois aspectos importantes para a
compreensão da vida sexual por parte dos que sofrem de qualquer tipo de câncer.
Um primeiro aspecto está na reação frente à
descoberta dessa doença, muitas vezes mutilante. Geralmente a pessoa que se
descobre portadora de câncer passa por estágios emocionais diversos, entre eles,
negação, rebeldia e depressão. É nas fases de rebeldia e de depressão que a
atividade sexual vai sofrer maior impacto. O paciente passa a se preocupar mais
com a sua saúde, exames, medicações, intervenções cirúrgicas, quimio e
radioterapia do que com sua vida sexual. O desejo diminui muito ou desaparece
totalmente, prejudicando as demais fases do ciclo da resposta sexual, quais
sejam, excitação (ereção no homem e lubrificação na mulher) e orgasmo.
A atividade sexual, para a maioria das
pessoas, não se desenvolve com preocupações na cabeça. No caso da pessoa com
câncer, a sexualidade fica em segundo plano. A pessoa passa a se ver com menos
estima, com tristeza e com um medo intenso de não mais corresponder às demandas
sexuais do parceiro. Temores de ser visto como doente, vítima e passível de
pena também afetam a auto-estima. Os relacionamentos acabam por se complicar,
principalmente quando não há abertura na comunicação da dupla.
O indivíduo sente-se só, pouco compreendido e
com muitos constrangimentos em comentar ou perguntar algo sobre a sua vida
sexual para o médico. Além disso, nem todos os profissionais lembram ou têm
capacidade de lidar com esses aspectos de seus pacientes. Algumas medicações
antidepressivas podem ser utilizadas com uma melhora no quadro depressivo e na
vida sexual do paciente. Deve-se procurar ajuda com um Psiquiatra.
Um segundo aspecto está na possibilidade de o câncer atingir áreas genitais ou outras regiões que possam afetar de forma
direta o desempenho da atividade sexual. Câncer nos genitais – pênis, vulva ou
colo de útero – ou em regiões próximas são mais complexos no que tange às
recomendações. Existem alguns riscos de infecções em áreas mais lesadas, ou
mesmo maior probabilidade de dor. Nesses casos, o médico é a pessoa que pode e
deve ser inquirida de forma direta. Especificamente:
O Câncer de Mama traz muitas complicações na
auto-imagem das mulheres, diminuindo muito o desejo de se expor ao parceiro. O
implante de silicone tem ajudado muitas delas a recuperar a auto-estima.
Pacientes que se submeteram a ostomização
(pacientes com câncer de colo ou reto que precisam abrir um orifício no abdômen
para eliminação de fezes em uma bolsinha plástica, não podendo mais evacuar
pelo ânus) sofrem muito para reassumir a atividade sexual, já que a bolsa
plástica passa a fazer parte constante de suas vidas. Tanto para os homens,
quanto para as mulheres, é uma fonte constante de sentimentos de inferiorização
e vergonha. Temem que a bolsa com fezes atrapalhe ou vaze durante o esforço da
atividade sexual. No sexo com esse tipo de preocupação, não há como se envolver
ou fantasiar: o sexo não se torna satisfatório. A comunicação é essencial e o
aconselhamento e reeducação sexual por um sexólogo é de grande utilidade.
Em alguns homens, pode ocorrer a impotência
sexual por lesão direta ou indireta ou por conflitos emocionais. Deve-se ter em
mente que a sexualidade não existe apenas quando há coito propriamente dito
(contato pênis-vagina). Faz parte de nossa sexualidade todo o envolvimento
afetivo e todas as sensações subjetivas prazeirosas de todo o corpo. A parceira
pode se satisfazer de várias formas que não com o pênis. Existem algumas
medicações que podem ser usadas para provocar a ereção, mas o médico deve ser
consultado antes.
O câncer afeta o casal em várias dimensões. A
dupla deve procurar formas de adaptação que visem a intimidade e a
cumplicidade. Com a estabilidade da doença, o desejo sexual retorna e passa a
ser novamente importante. Recomenda-se que a pessoa seja o mais sincera
possível com seu parceiro em relação a seus sentimentos e sensações. A dor deve
ser identificada e questionada com o médico, tal como técnicas possíveis para
se lidar com as dificuldades sexuais. Caso o médico oncologista não possa
esclarecer as dúvidas, é aconselhável a busca de um terapeuta sexual,
geralmente mais instrumentalizado para a orientação nesse aspecto da vida.
1 Comentário:
Aê, Lucas! Valeu! Já estamos com saudades. Um abração em todos aí em Santarem!
Postar um comentário