Primeira causa de morte por doença na faixa de 5 a 19
anos, o câncer pode ser curado em até 85% dos casos, mas há 30 anos - quando a
oncologia pediátrica não era sequer estudada - essa chance era de apenas 15%. Diagnóstico
precoce, encaminhamento adequado e tratamento de qualidade foram apontados
nesta quarta-feira pelos participantes de audiência pública na Comissão de
Assuntos Sociais do Senado como as principais estratégias para se obter sucesso
no tratamento do câncer infanto-juvenil.
Rilder
Paiva, presidente da Casa Durval Paiva - instituição de apoio à criança com
câncer em Natal -, explicou que foi exatamente a sintonia de ações entre as
diversas instituições que tornou o tratamento da doença, no segmento
infanto-juvenil, um dos maiores exemplos de sucesso nas últimas décadas.
O
foco do trabalho dessas instituições, conforme Paiva, não é somente curar a
doença, mas evitar que a criança fique com seqüelas. Em 1994, ao descobrir que
seu filho de um ano e meio tinha câncer, Paiva buscou no exterior a cura para
ele. Mas a criança perdeu a visão - o que poderia ter sido evitado com um simples
exame de fundo do olho.
Para
evitar problemas como o enfrentado pelo filho de Paiva, a cidade de Campinas
(SP) desenvolve um trabalho pioneiro na área: ao fazer a carteira de vacinação,
os bebês são submetidos a exame de fundo de olho e de massa abdominal. Projeto
idêntico está sendo desenvolvido, "com resultados fantásticos",
também na China, nos Estados Unidos e no Canadá.
O
superintendente do Instituto Ronald McDonald, Francisco Neves, reforçou o
alerta do presidente da instituição potiguar: detecção rápida da doença pode
significar também cura rápida e garantida. Ele citou o caso do retinoblastoma,
tumor intraocular maligno, detectável por um sinal, a mancha branca no fundo do
olho, cuja chance de cura cai de 98% para 15% se não for detectado a tempo.
Em
parceria com o Inca, o Instituto Ronald McDonald trabalha em projetos de
capacitação de profissionais do programa Saúde da Família, do Ministério da
Saúde. Médicos, enfermeiros e agentes comunitários de saúde são capacitados
para que possam avaliar, na população, potenciais casos de câncer
infanto-juvenil, encaminhando as possíveis vítimas a hospitais de referência na
região.
De
375 mil casos de câncer registrado na população de um modo geral, cerca de 10
mil atingem a faixa de até 19 anos. Apesar de representar 2,67% dos casos, o
tratamento e o diagnóstico do câncer infanto-juvenil, na avaliação do
vice-presidente da Sociedade Brasileira de Oncologia Pediátrica (Sobope),
Cláudio Galvão, devem ser elevados à condição de prioridade em saúde pública.
“Considerando a expectativa de vida da população brasileira, de 73 anos, o
câncer infanto-juvenil rouba muitos anos de vida de uma pessoa” - justificou.
Como
apontaram os especialistas, um dos problemas no enfrentamento do câncer
infanto-juvenil é que, ao contrário do modelo usado no Sistema Único de Saúde,
o tratamento é centralizado e realizado por equipes multidisciplinares. O
diretor-geral do Inca, Luiz Santini, explicou que não é possível fazer o
tratamento de forma descentralizado, pela falta de especialistas, de
equipamentos e mesmo de qualidade no tratamento.
No
Brasil, como informou Santini, há 68 instituições habilitadas ao tratamento do
câncer infanto-juvenil. Na região Norte, somente as cidades de Belém e Manaus sediam
essas instituições. Ele reconheceu que há carência de tratamento especializado
nessa região e no Nordeste.
Outro
problema apontado pelo diretor do Inca é o deslocamento dos familiares que
acompanham os doentes e a acomodação deles, por tempo prolongado, nos centros
de referência no tratamento do câncer infanto-juvenil.
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