quinta-feira, 15 de julho de 2010

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Câncer infanto-juvenil: de 375 mil casos de câncer registrados na população de um modo geral, cerca de 10 mil atingem a faixa de até 19 anos.

Primeira causa de morte por doença na faixa de 5 a 19 anos, o câncer pode ser curado em até 85% dos casos, mas há 30 anos - quando a oncologia pediátrica não era sequer estudada - essa chance era de apenas 15%. Diagnóstico precoce, encaminhamento adequado e tratamento de qualidade foram apontados nesta quarta-feira pelos participantes de audiência pública na Comissão de Assuntos Sociais do Senado como as principais estratégias para se obter sucesso no tratamento do câncer infanto-juvenil.

Rilder Paiva, presidente da Casa Durval Paiva - instituição de apoio à criança com câncer em Natal -, explicou que foi exatamente a sintonia de ações entre as diversas instituições que tornou o tratamento da doença, no segmento infanto-juvenil, um dos maiores exemplos de sucesso nas últimas décadas.

O foco do trabalho dessas instituições, conforme Paiva, não é somente curar a doença, mas evitar que a criança fique com seqüelas. Em 1994, ao descobrir que seu filho de um ano e meio tinha câncer, Paiva buscou no exterior a cura para ele. Mas a criança perdeu a visão - o que poderia ter sido evitado com um simples exame de fundo do olho.

Para evitar problemas como o enfrentado pelo filho de Paiva, a cidade de Campinas (SP) desenvolve um trabalho pioneiro na área: ao fazer a carteira de vacinação, os bebês são submetidos a exame de fundo de olho e de massa abdominal. Projeto idêntico está sendo desenvolvido, "com resultados fantásticos", também na China, nos Estados Unidos e no Canadá.

O superintendente do Instituto Ronald McDonald, Francisco Neves, reforçou o alerta do presidente da instituição potiguar: detecção rápida da doença pode significar também cura rápida e garantida. Ele citou o caso do retinoblastoma, tumor intraocular maligno, detectável por um sinal, a mancha branca no fundo do olho, cuja chance de cura cai de 98% para 15% se não for detectado a tempo.

Em parceria com o Inca, o Instituto Ronald McDonald trabalha em projetos de capacitação de profissionais do programa Saúde da Família, do Ministério da Saúde. Médicos, enfermeiros e agentes comunitários de saúde são capacitados para que possam avaliar, na população, potenciais casos de câncer infanto-juvenil, encaminhando as possíveis vítimas a hospitais de referência na região.

De 375 mil casos de câncer registrado na população de um modo geral, cerca de 10 mil atingem a faixa de até 19 anos. Apesar de representar 2,67% dos casos, o tratamento e o diagnóstico do câncer infanto-juvenil, na avaliação do vice-presidente da Sociedade Brasileira de Oncologia Pediátrica (Sobope), Cláudio Galvão, devem ser elevados à condição de prioridade em saúde pública. “Considerando a expectativa de vida da população brasileira, de 73 anos, o câncer infanto-juvenil rouba muitos anos de vida de uma pessoa” - justificou.

Como apontaram os especialistas, um dos problemas no enfrentamento do câncer infanto-juvenil é que, ao contrário do modelo usado no Sistema Único de Saúde, o tratamento é centralizado e realizado por equipes multidisciplinares. O diretor-geral do Inca, Luiz Santini, explicou que não é possível fazer o tratamento de forma descentralizado, pela falta de especialistas, de equipamentos e mesmo de qualidade no tratamento.

No Brasil, como informou Santini, há 68 instituições habilitadas ao tratamento do câncer infanto-juvenil. Na região Norte, somente as cidades de Belém e Manaus sediam essas instituições. Ele reconheceu que há carência de tratamento especializado nessa região e no Nordeste.

Outro problema apontado pelo diretor do Inca é o deslocamento dos familiares que acompanham os doentes e a acomodação deles, por tempo prolongado, nos centros de referência no tratamento do câncer infanto-juvenil.

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