quinta-feira, 17 de novembro de 2011

1

Verdadeiros irmãos de sangue


No filme “O Resgate do Soldado Ryan” um grupo de sete homens, comandados pelo capitão Miller (Tom Hanks), recebe a missão de localizar e levar de volta a salvo para os braços da mãe um paraquedista, último sobrevivente de quatro irmãos militares que combatiam na guerra contra o nazismo. Depois de uma busca obstinada por entre os horrores da guerra no sul da França eles finalmente o encontram, mas ele se recusa a voltar.

Este blog completou dois anos no último dia 12 de outubro. Na ocasião eu passava alguns dias em Belém com Sandrinha, ao lado da família, e a situação não me motivou, por mais que me esforçasse, a escrever nenhuma palavra de registro. E se tivesse insistido tudo soaria falso, então. No mínimo, uma ingratidão em retribuição a tudo o que ele tem feito de bom por mim nestes últimos 25 meses e alguns dias.

Sim, porque, além de me ter motivado, fortalecido e preenchido a mente e o tempo ocioso dos meses de afastamento do trabalho, desde o diagnóstico e durante todo o transcorrer do tratamento até agora, tenho também aprendido muito com ele. (Mesmo teimoso e voluntarioso do jeito que sempre fui e mesmo tendo perdido sabe-se lá quantos neurônios pela neurotoxicidade da quimioterapia, o que certamente me tornou ainda mais obtuso e desmemoriado do que já era).

Fortaleceu-me porque me fez descobrir a empatia em outros seres humanos que lutam do mesmo lado da trincheira contra o mesmo inimigo e que me mostram continuamente, com seus exemplos, de vida e de morte, mas, sobretudo com suas palavras, que é possível combater com o mínimo de dignidade este serial killer cuja simples menção do nome já desperta o medo, e que só em 2008, por exemplo, matou silenciosamente 7,6 milhões de pessoas e até 2030 deverá matar, por ano, 13,2 milhões em todo o mundo, segundo a estimativa da International Agency for Research on Cancer (IARC), das Nações Unidas. Algo avassalador, de desenvolver complexo de inferioridade até em Hitler e seus nazistas de merda, com seus 6 milhões de judeus inocentes, metódica e covardemente assassinados durante os 7 longos anos de guerra.

Motivou-me também porque me mostrou esta antes inimaginável possibilidade da solidariedade humana e comovente acima das limitações temporais, espaciais e culturais, privilegiando-me com o contato com pessoas da mais alta envergadura ética e espiritual, desnudas, como eu, pela necessidade, pela incerteza, pelo sofrimento e pelo medo, cujos rostos nas fotos se apagam assim que desligo o computador, mas cujas palavras escritas no compartilhar das experiências permanecem como as da doce Carolyne, as do jovem Tadeu Nogueira, as da Fabiana Campelo, as do Nelson Sonntag, as da Eliane ... que já se foram, mas que deixaram seus exemplos, suas palavras de superação e fé reverberando.

Ensinou-me o real valor, a real necessidade, o peso das palavras a mim, que me considerava pateticamente um amante delas. E eu escrevi a palavra câncer tantas vezes nesses 2 anos, até que ela se tornasse banal pra mim, assim como, infelizmente, os princípios expressos pelas palavras liberdade, igualdade e fraternidade, pelos quais o homem tem lutado desde o início da civilização são hoje nada mais que inscrições em muitos livros de história, mas perderam a consistência, o sentido. O Ser Humano é único na sua capacidade de usar a palavra escrita ou falada como meio de comunicação, como o símbolo, a expressão das suas ideias, sentimentos, emoções. Mas ensinam-nos a sermos cristãos, judeus, capitalistas, marxistas ou ateus, só não nos ensinam a sermos humanos.... 

Bem, quero agradecer a todos os leitores, seguidores ou não, pela companhia e pelo apoio esse tempo todo. Dedico a vocês esta pequena conquista parcial, pois é com vocês, meus irmãos, que eu fico.

Aliás, voltando à história do filme do início do post, estas foram as palavras do soldado Ryan na resposta para o capitão Miller: - Não, não vou voltar! Vou ficar e combater ao lado dos únicos irmãos que me restaram.
==============================

Foi uma surpresa pra mim, uma honra e uma alegria estar entre os finalistas deste concurso TOP BLOG (Qual é mesmo o prêmio, hein?). Sou tão distraído que quem me chamou a atenção para isto foi a Marina, querida, em um de seus (infelizmente) raros comentários aqui no blog. Aí eu fui dar uma olhada e descobri que concorriam exatamente 1.701 blogs na categoria Saúde. E ficar entre os 100 finalistas não é nada mal, né? Agradeço aos que votaram no primeiro turno (nem eu havia votado, acreditam?) e aproveito o embalo para pedir que continuem votando. Agora eu me empolguei, ririri.

Minha saúde? Bem, obrigado! É como tenho respondido quando me perguntam. Alguns se apressam: - Puxa! Como você tá bem! Gordo! (!), olha só que pele! (e coisas do gênero). Tirando a falta de memória cada vez maior, a paranoia, a obesidade, o mau humor, algumas “manchas” de perda da sensibilidade nos dedos das mãos, a esquizofrenia e um isqueiro virtual que “queima” a sola do meu pé esquerdo todas as noites quando me deito, blza! Mas qualquer coceirinha besta, qualquer febrinha e pronto: paranoia na certa! Os exames de controle passaram de trimestrais a semestrais.

A partir desta sexta-feira e nas seguintes estarei postando comentários sobre filmes que assisti e que abordam de vários ângulos a problemática do câncer, com links para download.

1 Comentário:

Paes Leme disse...

Bastante atrasado, receba os meus parabéns pela sua tenacidade, pelo seu esmero e boa vontade. Esse blog já me ajudou muito qdo mais precisei de companhia. Só tenho a agradecer, companheiro de trincheira.