Avastin, Humira, Rituxan, Enbrel,
Lantus, Herceptin e Remicade. Esses são os nomes de sete medicamentos que até
2014 devem estar no ranking dos dez maiores do mundo em termos de receita,
segundo a EvaluatePharma,
uma das principais consultorias do setor.
Todos são fruto de uma frente de
pesquisas promissora, a biotecnologia.
Em vez de componentes químicos, a técnica usa células e outros organismos vivos
para tratar doenças. Em 2000, havia apenas um biotecnológico na lista das dez
drogas que geravam mais receitas para as farmacêuticas. Mas
o futuro parece claro: a fronteira estará cada vez mais ligada à biotecnologia.
É nela, também, que reside a esperança dos 12 milhões de pessoas diagnosticadas
com câncer todos os anos.
Hoje eles são cinco —
indicados para tratar doenças que vão de artrite a diabetes. Esse crescimento
se deu em parte por razões científicas. A evolução da engenharia genética e o
mapeamento do genoma humano, concluído em 2003, permitiram aos cientistas
desenvolver pesquisas para tratamentos mais eficazes.
Na lista das drogas que
mais faturam hoje, duas são biotecnológicas indicadas para o tratamento de
câncer — número que deve crescer nos próximos anos.
Como as substâncias dos
biotecnológicos caem na circulação sanguínea e só atacam as células que se
combinam com seu antídoto, esses remédios causam menos efeitos colaterais e são
considerados ideais para pacientes com tumores. Nesse sentido, diferem de
tratamentos como a quimioterapia, que combate qualquer célula que se reproduza
rapidamente, mesmo saudável.
O interesse dos laboratórios pelos
remédios feitos de células e organismos vivos tem também uma razão
mercadológica. Recentemente, as patentes de alguns dos mais lucrativos
medicamentos químicos começaram a expirar.
A fórmula do Lipitor, indicado para o tratamento do colesterol e, até o ano
passado, detentor do título de remédio com maior faturamento do mundo, passou a
ser compartilhada com os fabricantes de genéricos em março de 2010. Neste ano,
o mesmo vai acontecer com outros 12 remédios de Roche, Novartis e outras
companhias, que terão perda anual de 27 bilhões de dólares de receita até 2015.
“As corporações estão investindo em
biotecnologia numa tentativa de recuperar uma parcela das fontes de receita
perdidas”, diz Michael Rosen, vice-presidente do ForestCity, grupo que controla
o parque tecnológico do Massachusetts Institute
of Technology (MIT).
Para os grandes laboratórios, as
pesquisas em biotecnologia representam um vasto campo a ser explorado — uma
realidade diferente das investigações com drogas químicas, há décadas o foco do
setor.
Uma das peculiaridades dos biotecnológicos
é que a pesquisa e o desenvolvimento nessa área são mais caros do que a
produção de remédios químicos. Por ser personalizados, é difícil testá-los em
grande escala. Habituados às pesquisas químicas, alguns laboratórios deixaram o
novo campo de lado por vários anos.
Numa tentativa de recuperar o tempo
perdido, partiram para a aquisição de grandes empresas de biotecnologia — foi o
que fez a Pfizer ao comprar a Wyeth por quase 70 bilhões de dólares.
Recentemente, o setor vem seguindo a lógica do mercado de internet, em que
grandes corporações pagam bilhões por pequenas empresas que desenvolvem uma
tecnologia considerada promissora.
Em abril, a inglesa AstraZeneca
comprou por 1,2 bilhão de dólares a americana Ardea Biosciences, que estuda
medicamentos para alguns tipos de câncer com menos de 100 funcionários. De
certa forma, foi como a aquisição do aplicativo de fotografia Instagram pelo
Facebook.
O que tem atraído a atenção das
farmacêuticas em especial são as empresas dedicadas à pesquisa de um ou mais
dos cerca de 200 tipos de câncer catalogados. Ao comprá-las, ganham alguns anos
de pesquisa — em outras palavras, usam as aquisições como estratégia para
atalhar o caminho até o lançamento de um remédio.
No Brasil, a biotecnologia, embora numa
escala menor, também tem atraído investimentos. Após receber 50 milhões de
reais de vários fundos, a Recepta Biopharma, de São Paulo, passou a
desenvolver uma droga para combater o câncer de ovário batizada de RebmAb.
Baseado no que foi feito até agora, o
Food and Drug Administration, órgão regulador americano, deu recentemente uma
validação preliminar à fase final de testes.
Em março, o Banco Nacional de
Desenvolvimento Econômico e Social anunciou investimentos em duas empresas: a
Bionovis, formada pelos laboratórios Aché, EMS, Hypermarcas e União Química, e
outra empresa ainda sem nome, dos laboratórios Biolab, Cristália, Eurofarma e
Libbs.
Cada uma recebeu 500 milhões de reais.
Mesmo os maiores entusiastas da biotecnologia concordam que os remédios
químicos vão continuar sendo a grande fonte de receitas do setor — acima de 70%
do faturamento global pelo menos até 2016.
Comentários:
Postar um comentário