quinta-feira, 21 de junho de 2012

1

Manipulação de resultado de pesquisas com novas drogas


A manipulação de dados para que se obtenham resultados favoráveis em estudos sobre medicamentos novos no mercado é uma prática comum dos laboratórios, segundo denúncia publicada ontem no British Medical Journal.
De acordo com o autor, um ex-funcionário de um grande laboratório que escreveu sob anonimato, os estudos realizados após a aprovação das drogas têm como objetivo alavancar as vendas dos produtos, e não determinar sua segurança de uso.
O artigo foi publicado junto com análise de estudos pós-venda de alguns remédios contra diabetes tipo 2.

Esse tipo de pesquisa é feito quando a droga está no mercado e, portanto, já passou pelas três primeiras fases de teste, necessárias para que o remédio possa ser vendido. Depois disso, são feitos estudos de fase 4 ou observacionais, que analisam o desempenho da droga na "vida real", sem as intervenções dos cientistas e os controles das pesquisas laboratoriais.

De acordo com o reumatologista Marcelo Schafranski, autor do livro "Medicina - Fragilidades de um modelo ainda imperfeito" (Ed. Schoba), a análise pós-venda é importante para avaliar o peso dos efeitos colaterais e o custo-benefício das novas drogas.

Mas faltam regras para controlar a metodologia desses trabalhos, muitas vezes patrocinados e elaborados pelas próprias fabricantes dos remédios. "Os resultados publicados são escolhidos após a coleta dos dados. São selecionados desfechos favoráveis para o fabricante do remédio, em vez de resultados como número de mortes ou internações em UTI. Do jeito que está esse tipo de estudo não tem credibilidade."

Um dos estudos, com mais de 66 mil pessoas, acompanhou os voluntários por 18 meses (quando o ideal para esse tipo de pesquisa são cinco anos) e exigia como comprovação de efeito colateral (hipoglicemia) um exame laboratorial. Com isso, foram registrados pouquíssimos desses eventos, dando aparência de vantagem da nova droga sobre a antiga.

De acordo com o texto publicado pelo ex-funcionário da indústria, além de mexer nas estatísticas, os laboratórios permitem que o departamento de marketing acompanhe todas as etapas dos estudos. O grande número de pacientes participantes serve, segundo ele, para disseminar a prescrição do novo remédio entre os médicos.

"Levávamos os médicos para os melhores hotéis e restaurantes durante as reuniões. Depois, atuavam como 'embaixadores', dando conferências, ensinando médicos e falando com a mídia sobre os benefícios da droga."

OUTRO LADO

As empresas citadas nos artigos do British Medical Journal responderam por meio de nota aos questionamentos publicados.

O laboratório Sanofi afirmou que acredita que os ensaios clínicos devem contar com objetivos científicos claros "para ampliar a base de evidências em prol dos interesses dos pacientes".

Segundo o comunicado, esse princípio é aplicado em todas as pesquisas conduzidas pela empresa. A Sanofi diz ainda que os estudos atendem aos quesitos éticos e regulatórios do Brasil.

"No país, foram e são realizados estudos de alto grau de evidência científica, visando ao melhor controle do paciente com diabetes."

A farmacêutica Eli Lilly afirmou que "não realiza pesquisas médicas com a intenção de que a condução do estudo aumente as vendas de um medicamento".

A empresa disse ainda que continua comprometida com a realização de pesquisas de impacto e relevância, que respondam a questões científicas e clínicas.

A Novo Nordisk disse que seus estudos clínicos estão "100% alinhados" com regras estabelecidas pelas agências regulatórias de cada país.

Fonte aqui. Ilustração: edição de imagem do Googleimages.

1 Comentário:

C@rin disse...

É, Daniel...

Como postaram no facebook, "a Ro polinizou e virou flor"

E é dessa mulher linda, corajosa e que adorava viver que temos de nos lembrar.

Tive o privilégio de conhecê-la, de conversar pessoalmente, de olhar em seus olhos, de sentir o seu abraço. Fui à missa de 7o dia, foi minha última homenagem à nossa amiga querida.

Agora podemos conversar com ela em pensamento, em tempo real. Só não temos percepção para ouvir suas respostas... Ou temos...

Enfim, como ela dizia, paciente oncológico que é ativo na internet, e de repente se cala... é sinal de que as coisas mudaram...

Espero que você esteja bem, Daniel.

Abraço,

Carin