segunda-feira, 2 de julho de 2012

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Fadiga crônica associada a maior risco de linfoma


Dores intensas, cansaço constante, infecções recorrentes, insônia, desânimo, distúrbios gastrointestinais, ansiedade, depressão, baixa imunidade e incapacidade de executar as tarefas mais básicas do dia a dia. Esses são alguns dos sintomas que caracterizam a síndrome da fadiga crônica (SFC), distúrbio que atinge milhares de pessoas no mundo. Subestimada pelos médicos, a doença incapacita seus portadores e leva a uma perda acentuada de qualidade de vida.
Diagnosticada frequentemente mais em mulheres do que em homens, na maioria das vezes, a doença se instala depois de um resfriado, gripe, sinusite ou outro processo infeccioso. Por razões desconhecidas, entretanto, a infecção vai embora, mas ficam os sintomas de indisposição, fadiga e fraqueza muscular que melhoram, mas periodicamente voltam, em períodos que podem ter duração de alguns meses ou anos.

Um estudo conduzido sobre adultos norte-americanos com síndrome de fadiga crônica (SFC, na sigla original) revelou uma relação entre o problema e a ocorrência de linfoma não-Hodgkin. O risco de desenvolver este câncer na população estudada foi 29% superior que no ano anterior, segundo os resultados publicados na revista “Câncer”.

"Existe um mecanismo biológico potencial que explicaria a relação", disse o autor principal do estudo, doutor Eric A. Engels, do Instituto Nacional do Câncer, em Bethesda, Maryland. "Observamos algumas associações com outros cânceres, mas esses resultados não foram muito consistentes", acrescentou.

A equipe de Engels utilizou a base de dados do instituto, chamada Vigilância, Epidemiologia e Resultados (SEER, na sigla original). O estudo incluiu 1,2 milhões de casos de câncer diagnosticados entre 1992 e 2005 e mais 100.000 "controles" que residem nas áreas do SEER.

0,5% dos pacientes com câncer e 0,5% do grupo de controle tinham SFC. A relação entre o risco de desenvolver linfoma não-Hodgkin (LNH) e SFC foi considerada estatisticamente significativa.

Dois subtipos de LNH, o Linfoma Difuso de Grandes Células B e o Linfoma de Zona Marginal também apareceram significativamente associados ao SFC.

Os demais tipos de câncer associados ao SFC foram os de pâncreas, rins, mama, cavidade oral e faringe. Ressalve-se que estas associações não se mostraram significativas após a realização de múltiplas comparações.

Para Engels, a relação entre o LNH e o SFC é biologicamente viável porque a síndrome é mais comum em pessoas com alterações imunológicas.

"Essas pessoas teriam um sistema imunológico cronicamente hiper-reativo e não poderiam combater as infecções normalmente. E assim é possível que, com o tempo, esta disfunção provoque linfomas", explicou.

O especialista recomendou também que os pacientes com SFC não se preocupem com estes resultados.

“O risco não é alto o suficiente para colocar as pessoas com fadiga crônica em outra categoria clínica”. O melhor, provavelmente, seja tranquiliza-los dizendo-lhes que o risco não é alarmantemente alto.

Traduzido daqui. Editorial daqui. Ilustração: colagem de imagens do Googleimages.

sexta-feira, 22 de junho de 2012

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Congresso da ASCO: combinação de drogas prolonga sobrevida e reduz efeitos colaterais no tratamento do câncer de mama


Um novo medicamento pretende melhorar o tratamento do câncer de mama metastático do tipo HER2-positivo – um dos tipos mais agressivos, que acomete até 20% das pacientes. Ainda em fase experimental, a droga T-DM1 promete prolongar a sobrevida e retardar a evolução da doença nessas pacientes, sem causar os efeitos colaterais típicos da quimioterapia. O estudo clínico com o medicamento foi apresentado durante o Congresso Anual da Sociedade Americana de Oncologia Clínica (ASCO, sigla em inglês), que aconteceu em Chicago, na primeira quinzena de junho, nos Estados Unidos.

O T-DM1 está em fase final de testes. Ele é formado pela combinação do anticorpo monoclonal (produzido a partir de clones de uma única célula) trastuzumabe e pelo quimioterápico emtansine (DM1). As duas substâncias já existiam no mercado, sendo que o trastuzumabe é usado rotineiramente no tratamento do câncer. "A novidade aqui é a união dessas duas drogas em uma só", diz Gilberto Amorim, diretor do Grupo Brasileiro de Estudos de Câncer de Mama e presente no ASCO.

Juntas, elas conseguem ter uma ação mais específica, atuando virtualmente apenas nas células cancerígenas. A ação da droga é combinada. Ao trastuzumabe cabe o papel de se ligar às células cancerígenas com o reagente HER2-positivo. Uma vez que esse primeiro passo é dado, o quimioterápico emtansine é então injetado para dentro da célula, matando-a. "É como um Cavalo de Troia. Por isso os efeitos colaterais são bem inferiores aos da quimioterapia tradicional", diz Amorim. Em outras palavras, como o agente quimioterápico não ataca também as células saudáveis do organismo, problemas como ânsia, queda de cabelo e diarreia são minimizados.

Pesquisas – O estudo foi realizado com 991 pacientes (cerca de 50 brasileiros), sendo que todas já haviam sido tratadas apenas com trastuzumabe. Metade do grupo recebeu, então, T-DM1, e a outra metade o tratamento padrão com os quimioterápicos lapatinibe e capecitabina. Aquelas que tomaram o T-DM1 não apresentaram progressão da doença por um tempo 35% maior — ficaram, em média, 9,6 meses sem o avanço da doença, contra 6,4 meses no grupo controle.

Das pacientes que tomaram o T-DM1, 43,6% tiveram os tumores reduzidos, enquanto apenas 30,8% do grupo controle apresentaram redução. A sobrevida com a nova droga também foi maior. No grupo que recebeu o medicamento, houve um aumento de 7,1 meses na qualidade de vida — sem nenhum sintoma. No grupo que recebeu os quimioterápicos tradicionais, o aumento foi de 4,6 meses.

Medicina personalizada — De acordo com a Roche, farmacêutica responsável pelo T-DM1, a droga deve ser submetida para aprovação da Agência de Alimentos e Medicamentos dos EUA (FDA, sigla em inglês) e para a Agência Europeia de Medicamentos (EMA, sigla em inglês) ainda este ano. "No Brasil, as expectativas são de que ela entre no mercado entre 2014 e 2015", diz Adriano Treve, presidente da Rocha Farmacêutica do Brasil.

A farmacêutica vem trabalhando ainda com três outras drogas biológicas para o tratamento do câncer. Já está em análise pela Anvisa o Avastin (já usado no tratamento de câncer colorretal, pulmão e de alguns tipos de tumor no cérebro e nos rins). Agora, o medicamento deverá ser usado também contra o câncer de ovário. Dados apontam que o uso combinado do Avastin com a quimioterapia reduziu em até 52% a progressão da doença.

Recentemente aprovado pela Anvisa, o medicamento Zelboraf (vemurafenibe) conseguiu reduzir em 63% o risco de morte e em 74% o risco de progressão do melanoma (câncer de pele), quando comparada à quimioterapia. A droga é indicada para aqueles pacientes com melanoma metastático positivo para mutação BRAF V600. "Esse medicamento será lançando em paralelo com o teste diagnóstico. Isso porque o produto só poderá ser prescrito para pacientes com essa mutação", diz Treve.

O que são biomedicamentos?

  1. A substância ativa de um medicamento biológico é feita por (ou derivada de) um organismo vivo, como uma bactéria ou uma levedura (um tipo de fungo unicelular).
  2. Ele pode ainda ser obtido de uma fonte biológica, como um tecido ou sangue, de onde são extraídos compostos que agem como medicamentos.
  3. Diferentemente de um remédio sintético, que é produzido por síntese química em processos controlados, o remédio biológico tem um processo bem mais complexo, que pode envolver etapas de recombinação genética.
  4. Seus efeitos colaterais podem ser graves e têm, geralmente, relação direta com o sistema imunológico, podendo levar a uma doença autoimune.
    No Brasil, há vários biológicos em uso: insulina recombinante, interferon (diabetes), eritropoietina (anemia causada por falência renal), fatores de crescimento e anticorpos monoclonais (usados no tratamento de doenças autoimunes, no câncer e após um transplante).
  5. Vacinas e antissoros também são considerados biológicos. O remédio Avastin, um anticorpo monoclonal, é um dos remédios contra o câncer mais usados no mundo.
  6. Em 2011, o FDA (agência americana similar à Anvisa) retirou seu uso para casos de câncer de mama em estágio avançado, mas ele ainda é indicado para alguns tipos de câncer colorretal, pulmonar, renal e cerebral.
Fonte aqui

quinta-feira, 21 de junho de 2012

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Amazonas: Atenção oncológica terá melhorias no segundo semestre de 2012


A elevação de cinco para nove no número de salas de cirurgia, possibilitando um aumento de 60% no quantitativo de procedimentos cirúrgicos é uma das melhorias previstas para ocorrerem ainda no segundo semestre de 2012 na Fundação Centro de Controle de Oncologia do Estado do Amazonas (FCecon), informou o diretor-presidente da instituição, o pneumologista Edson de Oliveira Andrade. Outra grande novidade é a instalação do Acelerador Linear - aparelho de ponta, utilizado no tratamento radioterápico (radiação curativa) e que já está na Fundação Cecon. A previsão é que ele comece a ser utilizado em 2013.

Oliveira destacou que outras mudanças, tais como a ampliação dos leitos de UTI para adultos e a conclusão da UTI infantil – hoje em fase de implantação – também estão previstas para o mesmo período. A primeira delas já teve a expansão do número de leitos iniciada, passando de cinco para sete na última semana. Para tanto, houve também a ampliação dos contratos com cooperativas de médicos intensivistas, enfermeiros e técnicos de enfermagem. “Cerca de 70% das cirurgias realizadas no hospital demandam UTI, já que são de alta complexidade e duram entre 6 e 12 horas”, explica.

A instalação do Acelerador Linear - aparelho de ponta utilizado no tratamento radioterápico (radiação curativa) e que já está na Fundação Cecon tem previsão de início de operação em 2013, já que aguarda a construção da Casamata – sala com reforço de concreto que o abrigará e cuja licitação está em fase de conclusão. A obra terá a duração de seis meses e, em seguida, o aparelho passará pela fase de testes para ser incorporado ao Serviço de Radioterapia da FCecon.

O acelerador possibilitará, além do aumento de aproximadamente 80% na oferta de tratamento radioterápico, a adoção de novas técnicas de radioterapia, a exemplo da chamada “conformacional tridimensional”, necessária nos casos de câncer de próstata e que hoje é feita na rede particular por pacientes da rede pública, por meio de contrato firmado com o Estado.

Investimentos e agenda positiva

Entre 2010 e 2011 o orçamento autorizado para a FCecon aumentou em mais de R$ 3 milhões, passando de R$ 54 milhões para pouco mais de R$ 57 milhões, um acréscimo de 5,6%. O número de atendimentos também sofreu crescimento. Segundo mostram as estatísticas, em 2010 foram realizados 821.611 atendimentos e em 2011, 855.082, 4,1% a mais que no ano anterior.

Para este ano o orçamento total é de R$ 70 milhões, ou seja, R$ 13 milhões a mais que em 2011, um acréscimo programado de 22,8%. A partir dele, será possível realizar procedimentos tais como os previstos no cronograma denominado “Agenda Positiva”, a qual se resume em uma previsão de atendimentos a serem realizados em um período de 45 dias – a contar de 1º de junho -, os quais totalizam 111.833.

Entre eles estão 108.602 procedimentos ambulatoriais, 2.558 hospitalares, 17.042 consultas, 456 internações e 673 novos inscritos – novos pacientes.

Também fazem parte da agenda a realização de 4,4 mil procedimentos odontológicos, 9,9 mil na área de enfermagem, 55,1 mil exames, 1,7 mil atendimentos de urgência e emergência, 271 cirurgias e aproximadamente 7,3 mil em radioterapia e quimioterapia.

Os números são fruto de uma perspectiva baseada em estatísticas dos últimos dois anos e considerando um crescimento gradativo da demanda.

A “Agenda Positiva” atende a uma orientação da Secretaria de Saúde, Susam, e prevê uma série de atividades que, embora sejam rotineiras, mostram a importância regional do hospital que é referência no tratamento do câncer em toda a Amazônia Ocidental, tendo em vista os números significativos no atendimento.

Atenção oncológica

“O câncer exige uma atenção que não fica só no médico. É de caráter integral de uma equipe multidisciplinar”, explicou Edson Andrade. Assegurando que a equipe da fundação é extremamente qualificada para o trabalho que presta à população do Amazonas e estados e países vizinhos que procuram atendimento da unidade hospitalar. “Hoje, além de vários mestres, a FCecon possui cinco doutores, o que mostra que a equipe é altamente qualificada”.

Outra peculiaridade da fundação são as residências em oncologia clínica, oncologia cirúrgica e cirurgia de cabeça e pescoço, as quais tornam a instituição não só um centro de atenção, mas também de formação e qualificação de profissionais.

Fonte aqui
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Manipulação de resultado de pesquisas com novas drogas


A manipulação de dados para que se obtenham resultados favoráveis em estudos sobre medicamentos novos no mercado é uma prática comum dos laboratórios, segundo denúncia publicada ontem no British Medical Journal.
De acordo com o autor, um ex-funcionário de um grande laboratório que escreveu sob anonimato, os estudos realizados após a aprovação das drogas têm como objetivo alavancar as vendas dos produtos, e não determinar sua segurança de uso.
O artigo foi publicado junto com análise de estudos pós-venda de alguns remédios contra diabetes tipo 2.

Esse tipo de pesquisa é feito quando a droga está no mercado e, portanto, já passou pelas três primeiras fases de teste, necessárias para que o remédio possa ser vendido. Depois disso, são feitos estudos de fase 4 ou observacionais, que analisam o desempenho da droga na "vida real", sem as intervenções dos cientistas e os controles das pesquisas laboratoriais.

De acordo com o reumatologista Marcelo Schafranski, autor do livro "Medicina - Fragilidades de um modelo ainda imperfeito" (Ed. Schoba), a análise pós-venda é importante para avaliar o peso dos efeitos colaterais e o custo-benefício das novas drogas.

Mas faltam regras para controlar a metodologia desses trabalhos, muitas vezes patrocinados e elaborados pelas próprias fabricantes dos remédios. "Os resultados publicados são escolhidos após a coleta dos dados. São selecionados desfechos favoráveis para o fabricante do remédio, em vez de resultados como número de mortes ou internações em UTI. Do jeito que está esse tipo de estudo não tem credibilidade."

Um dos estudos, com mais de 66 mil pessoas, acompanhou os voluntários por 18 meses (quando o ideal para esse tipo de pesquisa são cinco anos) e exigia como comprovação de efeito colateral (hipoglicemia) um exame laboratorial. Com isso, foram registrados pouquíssimos desses eventos, dando aparência de vantagem da nova droga sobre a antiga.

De acordo com o texto publicado pelo ex-funcionário da indústria, além de mexer nas estatísticas, os laboratórios permitem que o departamento de marketing acompanhe todas as etapas dos estudos. O grande número de pacientes participantes serve, segundo ele, para disseminar a prescrição do novo remédio entre os médicos.

"Levávamos os médicos para os melhores hotéis e restaurantes durante as reuniões. Depois, atuavam como 'embaixadores', dando conferências, ensinando médicos e falando com a mídia sobre os benefícios da droga."

OUTRO LADO

As empresas citadas nos artigos do British Medical Journal responderam por meio de nota aos questionamentos publicados.

O laboratório Sanofi afirmou que acredita que os ensaios clínicos devem contar com objetivos científicos claros "para ampliar a base de evidências em prol dos interesses dos pacientes".

Segundo o comunicado, esse princípio é aplicado em todas as pesquisas conduzidas pela empresa. A Sanofi diz ainda que os estudos atendem aos quesitos éticos e regulatórios do Brasil.

"No país, foram e são realizados estudos de alto grau de evidência científica, visando ao melhor controle do paciente com diabetes."

A farmacêutica Eli Lilly afirmou que "não realiza pesquisas médicas com a intenção de que a condução do estudo aumente as vendas de um medicamento".

A empresa disse ainda que continua comprometida com a realização de pesquisas de impacto e relevância, que respondam a questões científicas e clínicas.

A Novo Nordisk disse que seus estudos clínicos estão "100% alinhados" com regras estabelecidas pelas agências regulatórias de cada país.

Fonte aqui. Ilustração: edição de imagem do Googleimages.