Antes
de falar de mim e de meu tratamento, tem-me sido bem mais fácil (e acho até que
isso se tem traduzido em mais utilitarismo para aqueles que acompanham o blog) limitar-me
a postar - antes mesmo que venham a ser publicadas nos principais portais eletrônicos
de notícias do país - as matérias que pesquiso e traduzo dos sites de instituições
reconhecidas como de excelência no desenvolvimento e na publicação de pesquisas
na área da oncologia. E isso, sem o sensacionalismo irresponsável que muitas
das vezes só desperta falsas esperanças em quem já está vulnerabilizado pela
gravidade de uma enfermidade.
Mas hoje vou falar um pouco
do andamento do meu tratamento contra o linfoma, uma forma de câncer do sistema
linfático que descobriram em mim em agosto do ano passado. Quem se interessar pelo histórico pode ver
como tudo começou consultando os arquivos do blog.
Depois que recebi o 6º ciclo
da quimioterapia R-chop
no Hemoam, os exames de controle verificaram uma redução no tumor de 12 cm para
algo em torno de 5,5 cm. Claro que eu preferia uma remissão total, mas só tenho
que agradecer a Deus essa vitória parcial: e não poderia ter sido pior?
Passei a fazer exames de
controle de 3 em 3 meses e a tomar o Mabthera (Rituximab, ou
Rituxan) com a mesma periodicidade. O 2º exame e a 2ª aplicação foram no início
do mês de outubro/10 e não indicou alteração consistente no tamanho do tumor. Devo
continuar tomando o Mabthera como terapia de manutenção. O hematologista que me
trata já me disse que se o tumor voltar a crescer, o mais indicado a fazer será
o transplante
autólogo de medula.
Voltei às minhas atividades
normais em abril/10. Até hoje sinto uma ardência na planta do pé esquerdo e, às
vezes, simplesmente deixo de senti-lo, como se ele não existisse, e há cerca de
um mês voltei a sentir também coceiras nas pernas todas as noites, mas não com o
mesmo frenesi do dia em que fiz a laparotomia exploratória,
quando foram removidos pedaços do tumor para exame (biópsia) e cocei e
esfreguei tanto minha bunda que quase arranco pedaços.
A doença mudou algumas coisas
em mim, na minha vidinha, na minha percepção do mundo, umas pra melhor; outras,
pra pior. Ela me trouxe, por exemplo, uma consciência mais concreta do fenômeno
da morte material como uma experiência intrínseca à vida na face da terra, e
sua implicância no afastamento definitivo de meus entes queridos. Trouxe-me
também certa irritabilidade, uma ansiedade que às vezes não consigo controlar face
minha inabilidade para lidar com coisas não-resolvidas, pendentes sobre minha
cabeça. Mas me anima pensar que tudo vai dar certo, e isso deve ser importante
em todo esse processo.
Quero desejar a todos os
amigos e àqueles que acompanham o meu trabalho aqui no blog, mas, sobretudo e
principalmente àqueles que estão nesse momento lutando bravamente pela vida
contra esta doença infame em casa, junto da família ou internados em uma
unidade de tratamento hospitalar, um Natal e um novo ano cheios de luz e de
esperança, cheios de merecimento pela saúde e pela cura redentora.
Que Cristo, nosso exemplo maior
cujo advento comemoramos nesta época (mesmo convencido que de fato seu
nascimento se deu em setembro), não seja
apenas um nome, mas, sobretudo um princípio, um Estado de Consciência a
buscarmos obstinadamente nesta aventura aqui no Planeta Azul de existência
material.
A partir de hoje estarei
afastado aqui do blog, em viagem de férias com Sandrinha, até o dia 17/01/11.
Espero encontrá-los na volta para juntos darmos continuidade a este modesto trabalho.